Acabei hoje de ler este livro, e adorei!
Recomenda-se...assim como o primeiro que li dele, "A Euforia Perpétua – Ensaio sobre o Dever de Felicidade".
Em relação ao primeiro que li, "A Euforia Perpétua", fala sobre a obrigação que a nossa época impõe a todos de serem constantemente felizes.
Pascal propõe um olhar mais realista sobre a nossa condição de seres que oscilam entre estados emocionais diversos. A nossa condição está mais próxima de uma luta permanente do que desse estado de exultação infinita. Lutar contra esses reducionismos, que mais nos deprimem do que instigam a seguir em frente, é um exercício de lucidez e bom senso.
Quando acabei de ler o livro, fiquei logo com vontade de ler mais livros do autor...e foi assim que me cruzei com "O Paradoxo Amoroso".
Fala sobre a trajectória de como esse sentimento foi sendo “construído” ao longo do tempo.
Desde a época em que ele era mais um aprisionamento, condicionado por valores políticos, económicos e familiares até os nossos dias, quando a liberdade é um pressuposto básico.
O amor, segundo Bruckner, legitima-se a partir do Séc XIX, mas também se tornou o seu algoz.
Ninguém está mais disposto a abrir mão da plena realização de todas as expectativas que o envolvem.
"Se por muito tempo a expressão foi sinónimo de promiscuidade, sexo fácil, agora é preciso considerá-la num nível mais elevado, como um oximoro por excelência, o casamento improvável do pertencimento e da independência, essa situação que afecta todos nós, sejam quais forem os nossos meios, as nossas opiniões, nossas inclinações. Como o amor que une se pode por de acordo com a liberdade que separa?”.
Eis o paradoxo do título.
"Por exemplo, não somos frios, não nos falta amor: sobra. As generalizadas acusações de frieza são o nosso bode expiatório para o facto de que agora estamos por conta própria. Agimos durante muito tempo como se um único obstáculo de natureza moral, política ou religiosa impedisse o amor de desabrochar em seu esplendor. Os obstáculos caíram e o amor mostrou a sua natureza: ambivalente, admirável e lamentável. (...)
A tragédia clássica opunha uma ligação impossível a uma ordem cruel; na tragédia contemporânea, o amor é morto por ele mesmo, morrendo de sua própria vitória. É exercendo-se que ele se destrói, sua apoteose é seu declínio.(...)
Infelizmente, diante dessa ambivalência amorosa, fala-se demais do amor como ele deveria ser, e não suficientemente de como ele é. (...)
Hoje, a fronteira entre estar só e com alguém tende a tornar-se mais fluída de tão forte que é a nossa vontade de aproveitar as duas condições. Condensamos numa só pessoa a totalidade das nossas ambições. Os muitos divórcios não resultariam do nosso egoísmo, mas do nosso idealismo, impossibilidade de viver junto ligada à dificuldade de ficar sozinho.
Os relacionamentos morreriam pela ideia elevada demais que cada pessoa tem de si."
"As astúcias da história transformaram a fantasiada libertação sexual em pesadelo amoroso.
Somos livres para amar como nunca fomos, mas jamais fomos tão solitários, infelizes, tristes e queixosos em matéria de amor.
A liberdade conquistada descambou num ideal amoroso tirânico: prazer perene, à prova do desgaste do tempo e do hábito.
O resultado é a insatisfação crónica; a busca masoquista pelo “defeito” em si ou no outro, responsável pela obsolescência precoce de tantos sonhos de amor."
“Não somos nem heróis nem santos, somos simples humanos com capacidade de dedicação limitada”, diz Bruckner.
"...a infelicidade amorosa de hoje deve-se a uma idealização do sentimento, cuja fonte é a despropositada injunção cristã do “amai-vos uns aos outros”.
A religião, às caladas, continuaria a orientar as expectativas amorosas", diz Bruckner.
“Quanto ao sofrimento amoroso, ele é indissociável da felicidade, nosso desgosto nos agrada e nos faria falta se desaparecesse… Talvez a paixão esteja fadada ao infortúnio, mas é um infortúnio muito maior nunca ter se apaixonado”.
E termina o livro assim:
“Amamos tanto quando podem os homens amar,
ou seja, imperfeitamente”.
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