segunda-feira, 3 de julho de 2017

Mulher como Espelho do Homem





O homem sonha. Do fundo de uma perspectiva rasgada numa matéria opalescente uma mulher caminha para ele. É a sua alma. Psique! A mulher traz um espelho na mão. O homem vê-se no espelho. O seu rosto está banhado de uma luz semeada de pequenas asas vibráteis de platina. É a revelação inaudita do anjo que ele era e não sabia. O homem vê-se no espelho. O seu rosto está coberto de minúsculos animais viscosos que incessantemente saem do antro tenebroso do seu coração. É a revelação monstruosa do demónio que ele era e não sabia.

Eis a glória e a ignominia da mulher…
Glória, porque é da sua natureza anímica, apaixonante, pôr o homem em tensão para o sublime ou para o ignóbil que nele se libertam pela via da paixão.
Ignomínia, porque esta propriedade entusiasmante de mulher implica ser ela indispensavelmente objecto da subjectividade do homem.


NATÁLIA CORREIA
in, "Mulher: Antologia Poética "




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