sábado, 15 de julho de 2017

Íntimo





Íntimo vem do latim INTIMUS, 
que é de dentro.
Privado vem do latim PRIVARE, 
que é privado, separado, individual.



Certos relacionamentos são privados, mas não são íntimos.
Dois indivíduos partilham a cama, a casa, o sexo, a comida, filhos, objectos e não são íntimos, mesmo após anos a fio.

A prostituta poderá conceder o corpo enquanto objecto, já o beijo na boca será evitado, se a mesma a considerar a porta para o que é “de dentro”.

Tornar íntimo relaciona-se mais à afeição que ao tomar posse. 
Na intimidade não há estranheza e existe um entendimento que vem de dentro. 
Um cão que nos lamba e que afagamos pode ser-nos intimo, não o estranhamos, nem tememos. O gato mesmo que distante é-nos intimo também. É um entendimento que vem de dentro, do animal da qual fazemos parte. Não poderemos, no entanto, partilhar a intimidade de uma ideia, de um livro, ou música com um animal, é-lhes estranho toda essa linguagem e nesse sentido estamos separados na nossa apreciação da quinta sinfonia ou daquele belo filme.

Privado é aquilo que é separado, afastado do grupo, individual. 
O meu corpo é privado, assim como a minha mota, que a mim passa a pertencer por um tempo e sobre a qual exerço um qualquer direito. Na mota não há intimidade, pois apesar de privada, qualquer um pode vê-la por dentro. No entanto, não é do povo, o seu uso é pessoal e talvez concedido a um terceiro por um tempo.


No privado e público há concordar. 
Na intimidade há um aceitar.


Ser íntimo não é o mesmo que ter sexo, tocar, ou manter proximidade. Ser íntimo é estar ligado, ser presente no outro sem tocar, entender sem impor, aceitar sem obrigar ou obrigar-se. Pois se privado e público, deriva de um acordo partilhado, a intimidade deriva de uma partilhada aceitação. O mistério que é vivido e aceite conjuntamente.

Intimidade existirá entre amigos que se entendem mutuamente, namorados que se ligam sensivelmente, na cumplicidade entre estranhos que apreciam o mar. Existe entre um humano, um gato, uma barata e uma flor a aquecerem-se ao sol.

Na ausência da intimidade, sentirás-te solitári@ no meio da multidão, ao lado d@ conhecid@ que estranhas, entre os teus objectos de desejo.

Amar é entender e entender é amar. 
Se entenderes isto, serás íntimo até junto a uma árvore, com uma mosca que em ti poisa ou com a brisa fresca que afaga-te entre o sol que te aquece. A solidão não encontrará espaço em ti, estarás sempre acompanhado, mesmo nos momentos em que sozinh@ te encontres.



Vasco Daniel
in, Alquimia




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