terça-feira, 4 de julho de 2017

Dilema do Adeus





Quero dizer-te adeus 
e não encontro palavra 
para dizer-te adeus. 

Simplesmente adeus 
não traduz o que sinto 
por fora e por dentro 
ao dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
e não encontro sentido 
para dizer-te adeus. 

Certamente adeus 
não arranca de mim 
a vontade de ficar 
para dizer-te um adeus-sem-fim. 

Quero dizer-te adeus 
e dissolver todas as lembranças 
e apagar a esperança 
de rever um dia depois do adeus. 

Quero dizer-te adeus 
e não encontro coragem 
para dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
para que o tempo passe 
as rugas e as pedras apareçam 
e ainda assim dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
e não encontro caminho 
para dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
e mansamente sumir na estrada 
assim calada, no silêncio profundo 
ao dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
e não encontro o tempo certo 
para dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
na monotonia das palavras vãs, 
na agonia da consciência cristã 
que só permite dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
e poder ser a mesma 
depois do adeus. 

Quero dizer-te adeus 
e sair incólume 
desse encontro inesperado 
e ter a certeza de dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
e continuar como antes, 
antes e depois de dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
na busca frenética de mil adeuses 
na cena erótica de um quarto vazio 
para conseguir dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
tantas e quantas vezes for preciso 
pois só assim me conscientizo 
de que é preciso dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
no anoitecer de um dia claro 
no afã de um beijo desesperado 
e encontrar força para dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
na transparência das minhas lágrimas 
e no mesmo instante afogar-me em mágoas 
para poder dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
na busca do absurdo 
do acaso surdo e mudo 
daquele encontro que tornou-se adeus. 

Quero dizer-te adeus 
quantas vezes eu já nem sei 
quantas noites eu vaguei 
na busca infinita de dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
pelos motivos que já sabemos 
porém não cremos 
por isso tão difícil dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
e interromper este dilema 
deixar mudo este poema 
e silenciar este adeus. 

Quero dizer-te adeus 
no afã de um suspiro profundo 
no elã de um olhar fecundo 
e pronunciar docemente o adeus. 

Quero dizer-te adeus 
nas entrelinhas de uma poesia obscena, 
no jogar pelo chão esta paixa terrena 
sair correndo e dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
como um raio que fulmina, 
como uma bebida que alucina, 
bruscamente, dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
e poder cair no esquecimento 
pois não pensarei no tormento 
quero simplesmente dizer-te adeus. 

Quero dizer-te adeus 
na rapidez de um trem veloz, 
não quero que ouças a minha voz, 
quando gritar finalmente, 
ADEUS


Angela Schaun







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