domingo, 8 de março de 2015

Clarissa Corrêa





"E o amor?, você me pergunta.
O amor, ah, sei lá.
O amor nem dá pra definir direito.
Acho que é um desejo de abraçar forte o outro, com tudo o que ele traz: passado, sonhos, projectos, manias, defeitos, cheiros, gostos.

Amor é querer pensar no que vem depois, ficar sonhando com essa coisa que a gente chama de futuro, vida a dois. Acho que amor é não saber direito o que ele é, mas sentir tudo o que ele traz.

É você pensar em desistir e desistir de ter pensado em desistir ao olhar pra cara da pessoa, ao sentir a paz que só aquela presença traz.

É nos melhores e piores momentos da sua vida pensar preciso-contar-isso-pra-ele.
É não querer mais ninguém pra dividir as contas e somar os sonhos.
É querer proteger o outro de qualquer mal.
É ter vontade de dormir abraçado e acordar junto.
É sentir que vale a pena, porque o amor não é só festa, ele também é enterro.
Precisamos enterrar nosso orgulho, prepotência, ciúme, egoísmo, nossas falhas, desajustes, nosso descompasso. O amor não é sempre entendimento, mas a busca dele.

Acho que o amor não é o caminho mais fácil, pois mais fácil seria dizer a-gente-não-se-entende-a-gente-não-combina-tchau-tchau.
O amor é uma tentativa eterna.
E se você topar entrar nessa, saiba que o amor encontrou você.
Seja gentil, convide-o para entrar."

Clarissa Corrêa



"Não adianta tentar tirar da cabeça quem se alojou no coração. Não adianta fingir que não sente na tentativa de passar a não sentir. E quer saber? Te amo. Te amo de um jeito que eu tento explicar e não sei. Palavra fica presa. Engasgo, afogo e uso palavras pela metade. Na hora H sempre falta uma vogal. Mas quer, de novo, saber? Meu coração nunca foi pela metade: sempre foi-inteirinho-seu.

...mas não pedi você para mim. Pedi para a vida andar no seu rumo, de acordo com as suas leis. Pedi para ser feito o melhor para nós dois, mesmo que isso me mantenha longe de você.

(...)

Eu só quero que você entenda que eu te mando embora querendo que você fique. Penso em não te querer mais sonhando em como te ter mais um pouco. Fico com raiva de você e isso passa. Quero mais carinho e isso me cansa. Penso que você é um ser inatingível, um ser que vive num mundo fechado a mil chaves e cadeados...quero que você entenda: eu gosto de demonstrações de amor, paixão, seja lá o que for.

(...)

Desocupar é a ordem. Desocupar, também, do meu coração.
Cansa dar bola e se importar com gente que não está nem aí.
O problema é que não mudo nunca: me ocupo de todo mundo. É por isso que sempre falta espaço aqui dentro, até mesmo pra mim. Ainda bem que o-dia-de-Maria tá funcionando com papéis, roupas e tudo mais. Um dia viro a-Maria-dos-sentimentos."

Clarissa Corrêa



“Sempre fui de me doar. Ouvia, ajudava, consolava, me importava.
E não foram poucas as vezes que, mesmo em segredo, eu deixava de pensar na minha vida para ajudar os outros. Em segredo, explico, porque não acho que preciso de medalhas, prémios ou troféus. Se eu faço, é de coração, sem esperar reconhecimento do outro. 
Mas, perdão, eu sou humana e sinto. O mínimo que a gente espera é gratidão.
Aprendi que ela nem sempre aparece. Aprendi que às vezes as pessoas acham que o que a gente faz é pouco. Por tanto aprendizado, acabei descobrindo que é melhor eu cuidar mais da minha vida e menos da dos outros. Não quero morrer santa, quero morrer feliz. Então, a rebelião. Como assim? Onde ela está? Por que sumiu? Ai, meu Deus, como mudou.
Não, eu continuo a mesma. Só que até o mesmo se transforma. E percebe que, guarde isso, ninguém vai andar ao seu lado. A gente aprende a caminhar sozinho, pode até ter o auxílio de alguma mão, um apoio, mas os passos são dados por você.No meio do caminho, entre acontecimentos, atalhos e força, você percebe que precisa abrir uma brecha para a fragilidade se instalar. E que chorar alivia a alma. Mais do que isso: abrindo a janela pra fragilidade é que você descobre o quanto de força ainda resta para seguir em frente.”

Clarissa Corrêa



Mas descobri que não preciso brigar, falar o que penso, enfiar o dedo na cara, desejar o seu mal ou falar o quanto você é uma cretina para todo mundo. Vou deixar a vida te ensinar. O que quero é que você vá para bem longe com sua felicidade falsa, seu coração vagabundo e sua inveja fantasiada de anjo.

Clarissa Corrêa



O amor não é uma desculpa. Você não pode justificar o ciúme com o amor.
Sinto ciúme de você porque te amo demais. Eu já disse isso, mas hoje vejo diferente.
Se eu amo demais, o problema é meu. Dizer que ama e quantificar o amor só serve para quem sente. Se eu tenho o maior amor do mundo, o mais puro e o que mais me faz feliz o problema é exclusivamente meu. Sabe por quê? Não importa o amor que eu sinto, não para o outro. Para o outro importa como eu demonstro, me comporto e vivo esse amor. O que adianta eu dizer que o meu amor é o mais puro de todos se eu não mostro isso? O amor não é uma palavra bonita.
O maior problema do mundo, hoje, é esse. As pessoas acham que falar basta.
Não, falar não basta. O amor não tem que ser dito, ele precisa ser sentido, senão ele não sobrevive.

Clarissa Corrêa



Tenho uma particularidade instigante: preciso da solidão. 
Gosto de pessoas, preciso delas, não sei viver sozinha. Mas sou mimada, preciso quando eu quero. Sou egoísta, gosto de ver televisão sozinha, sem ninguém falando junto. Sou chata, não gosto de dividir banheiro com ninguém. Sou espaçosa, bagunço as minhas coisas. Preciso da solidão para ler, para olhar para o tecto, para tirar ponta dupla do cabelo, para fazer as unhas, para pensar em tudo, para fazer nada. Preciso da solidão para ser eu mesma. Para fazer alongamento, rir de mim, chorar comigo. Não entendo como tem gente que não abre a janela em dias nublados.
Eu adoro janelas abertas, esteja um dia lindo de sol ou um carregamento de nuvens cinzas.
Tenho que sentir o ar que vem lá de fora, seja ele qual for. Com seu gosto, cheiro, textura. Falo algumas coisas esquisitas como essa, por exemplo, ar com textura. Conheço cores que ninguém conhece, vejo alguns filmes que grande parte da população acha tosco.
Não gosto de deixar as coisas pela metade, mas já deixei...

Clarissa Corrêa


O que eu peço é que você seja sempre de verdade também.
Que me queira assim, imperfeita e cheia de confusões. Que saiba os momentos em que eu preciso de uma mão passando entre os fios de cabelo. Que perceba que às vezes tudo o que eu preciso é do silêncio e do barulho da nossa respiração. Que veja que eu me esforço de um jeito nem sempre certo. Que veja lá na frente uma estrada, inteiramente nossa, cheia de opções e curvas.
E que aceite que buracos sempre terão.

Clarissa Corrêa



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