segunda-feira, 10 de julho de 2017

Ter-te de Todas as Maneiras





E, todavia, eu não quisera amar-te. 
Mas ter-te, sim, de todas as maneiras. 
Quem és e como és, de quem te abeiras, 
que dizes ou não dizes, pouco importa. 

E muito menos hoje me conforta. 
Neste sorriso que te dou tranquilo, 
eu ponho num remorso tudo aquilo 
que em fundo amor eu te pudera dar-te, 

Se alguma vez te amasse de amor fundo, 
senta-te à luz do mar, à luz do mundo, 
como na vez primeira em que te vi, 

tão jovem, que era crime o contemplar-te. 
E despe-te outra vez, pois vêm olhar-te 
quantos te buscam de saber-te aqui. 

Sendo um de tantos, nunca te perdi. 



Jorge de Sena
in, "Peregrinatio Ad Loca Infecta 
(Sete Sonetos da Visão Perpétua - VI)"





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