quarta-feira, 19 de julho de 2017

A Minha Poesia





Aquilo que dentro da minha produção poética pode eventualmente definir-me, entre os poetas da minha geração, é o resultado do esforço para conquistar um espaço independente, ou seja, a minha forma particular de universalizar.
Pertenço ao número dos que atribuem à poesia uma enorme responsabilidade: a de transformar o mundo.
A poetização das coisas não é senão o aperfeiçoamento delas.
É para isto que se faz poesia e não para com ela se fazer literatura.

Os transes de ironia e de revolta que muitas vezes tecem os meus poemas, são o regurgitar de um incontinente entusiasmo por um sonegado destino de amor e liberdade que o poeta escuta ao estimular a superação das coisas e dos seres e que não vê cumprida.
A luta contra o tempo gerando o sublime engendra-lhe o reverso que é a abjecção de se viver condicionalmente. 

Aquilo que Jaspers chama o incondicional e que emana de uma liberdade que não pode ser de outra maneira, que não é causa de leis naturais mas o seu fundamento transcendente e que é o sublime de cada um, resulta na maior traição, porque não é dado ao homem como sua existência, mas deslumbrado num estado de superação.
A luta pelo incondicional em choque com a minha condicionalidade, eis o que me parece caracterizar melhor a minha poesia.


Natália Correia




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