quinta-feira, 20 de abril de 2017

Embriagai-vos!




Embriagai-vos!

Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.

Mas, com quê? 
Com vinho, poesia, virtude. 
Como quiserdes. 
Mas, embriagai-vos.

E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo que gene, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são.
E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão:

- É a hora de vos embriagardes! 
Para não serdes escravos martirizados do Tempo, 
embriagai-vos! 
Embriagai-vos sem cessar!
Com vinho, poesia, virtude!
Como quiserdes!



Charles Baudelaire 
in, Petits Poémes en Prose
1869






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