quarta-feira, 19 de abril de 2017

A Cultura Portuguesa e o Provincianismo




A cultura portuguesa tem um amor fatal pelo provincianismo.
O provincianismo é a forma mais «engagée» de existir socialmente e literariamente.
Daí a impossibilidade, ou melhor, o medo de se realizar sequer um realismo a sério, porquanto este exige uma descida ao inferno e não vejo por aí quem se atreva além do purgatório. Fica-se assim na meia tinta do naturalismo, retratando quadros convencionais de uma sociedade provinciana onde, além da já muito conhecida injustiça social (reparável pela economia e não pela literatura), nada se capta que possa sugerir a simples violência de se estar no mundo.

Provincianismo chama-se ainda àquela nossa atitude que toma muito a sério ou, ainda, solenemente, tudo o que faz, tornando inviável uma literatura que desmonte eficazmente a engrenagem humana e social pela incomplacente investida de um humor cruel.
Houve recentes tentativas queirozianas para denunciar as fraquezas do meio.
Conseguiu-se fazer realismo desta vez?
Também não, porque se fez realismo de empréstimo, de segunda mão, colhido no «diz-se diz-se» das esquinas. Escreveu-se razoavelmente má-língua, mas não se agitaram as pessoas e as instituições de forma a tornar visível o lodo depositado no fundo.
Isto quanto aos que fazem profissão de fé de realismo social ou burguês.
Neste capítulo, não podemos competir com os mestres do neo-realismo americano e europeu, que bons ou maus, para quem aprecia o género, já disseram a última palavra.



 Natália Correia




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