Kirsty Mitchell
Você sabe como eu sou desocupada
que me encerro neste quarto e me permito
todas as divagações, as fantasias
obsessões, perseguições, todos os dias
você sabe que eu me viro de inventos
que eu me reparto e dou crias
que eu mal me resolvo e me aquento
carrego pedras no bolso
e enfrento ventanias.
Você sabe como eu sou desorientada
raciocíno pelo instinto e cometo
fugas de túnel de ladra de galeria
uso malhas e madres manhas e lanhas
e percorro superfícies
em que você escorregaria
mas você sabe como eu sou de subsolos
de subterfúgios, de subversos subliminares
como eu sou de submundos
subterrâneos, de sub-reptícias folias
meio de circo, meio de farsa
ervas, panfletos, fluidos, presságios
quebrantos, jeitos, giras, reviras
de sensações e cismas, filosofias
de como eu sou de estradas, andanças, pressentimentos
atmosférica e vadia
gato da noite, de crises, guitarras
ouros e danças e circunstâncias
de vinho azedo e companhia.
Que eu sou de toda as misturas
todas as formas e sintonias
e enfrento esse aperto, essas normas
forças, pressões, imposições, o poderio
os intervalos, o silêncio da maioria.
Você sabe de toda minha luta
mesmo quando a intençâo silencia
que eu não cedo, não desisto
a todo custo, a toda faca, a todo risco
eu sobrevivo de paixão e de anarquia.
Você sabe bem da minha fraude
Você conhece as minhas alquimias.
BRUNA LOMBARDI
in, Gaia
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