aos quarenta anos não sei quem és.
reages a Bach e à poesia e a pouco mais.
mulheres? muitas. nenhuma.
memórias? duas ou mesmo três mil,
memórias rutilantes e sombrias, como a mica.
quase nada a obra, não mais do que um barro seco e intratável.
todos os teus amigos, quer dizer os que ficaram, são nomes
a quem às vezes trocas o rosto,
cinza sobre cinza, poalha obscura, amorfa e fria.
como a peste, os teus dedos tocam e encarquilham
e porquê?
os grandes sonhos de outrora, as grandes palavras líricas?
chocalhos calados, isso sim!
aos quarenta anos não sei quem és.
não digas que vens da minha parte:
nem eu sei quem sou!
JOÃO RICARDO LOPES
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