terça-feira, 19 de julho de 2016

O Sultão Venceu




Falhou um golpe, triunfa outro.


Imagine-se a leitora ou o leitor, por um instante, a ler estas notícias:
“Venceu um golpe de Estado na Turquia, foram demitidos quase três mil juízes, fechados os jornais de oposição e presos dirigentes dos partidos parlamentares que se opõem ao Chefe”. 
Que diriam as chancelarias?
Enviariam notas soturnas de preocupação. Foram presos os dois juízes do Tribunal Constitucional que libertaram jornalistas que tinham investigado uma venda de armas turcas na Síria, ou seja, um apoio ao Estado Islâmico?
Mais uma nota de surpresa e de indignação. Seria isso que aconteceria se fossem estas as notícias.

Só que são mesmo estas as notícias.
Erdogan, depois do golpe militar falhado, decidiu desencadear todas as medidas possíveis para destruir a contestação social e os protestos democráticos. Nada o limita agora, e as autoridades europeias, sabendo-o, põem-se ao seu lado, pelo silêncio mais do que pela anuência.

Sonhando recompor o império otomano em nome de um partido religioso que tem desmantelado a tradição laicista do Estado turco, que fora criada por Ataturk desde a fundação da república moderna, Erdogan construiu lentamente o seu poder.

O movimento islâmico teve 8% em 1987, 16% em 1991, 21% em 1997, mas, já com Erdogan, teve 34% em 2002, 46% em 2007 e 50% em 2011.
Controla hoje todas as estruturas do Estado.

Ao longo deste percurso, foi sempre vitoriado pelas potências internacionais.
O então presidente Bush foi discursar a uma cimeira da NATO em Istambul, em 2004, vangloriando o sucesso de Erdogan: “o vosso país é um exemplo”.
Na NATO e com uma sólida aliança com Israel, raramente perturbada por escaramuças verbais, este estranho regime islâmico manteve-se como um pilar da política de Washington na região.
A União Europeia reforçou esta aliança, ao atribuir-lhe o papel de guardião das fronteiras para parar os refugiados, pagando-lhe e fazendo concessões de monta a Erdogan, precisamente quando ele dirigia a repressão sobre os jornais independentes e sobre os partidos de oposição.

Militarmente, este apoio é um erro que acentuará os riscos de segurança na Europa, porque o alvo de Erdogan na região são as forças curdas, precisamente as únicas que combatem no terreno contra o Estado Islâmico.

Socialmente, este domínio absoluto também agrava as tensões na Turquia, um dos estados mais desiguais da OCDE (os 1% mais ricos tinham 38% da riqueza nacional em 2000 e já detinham 54% em 2014, um progresso impressionante).

O golpe de estado que agora está a triunfar na Turquia é portanto uma ameaça para a população turca e para quem vive no Mediterrâneo ou na Europa.
O mundo ficou mais perigoso com a ofensiva de Erdogan.



Francisco Louçã


Este "bicho" Erdogan sempre jogou para os dois lados.
Todos viram a cara para o lado, quando ele apoia o Estado Islâmico, e mantém a sua guerra com os Curdos( os únicos que combatem de verdade o EI), que é a única coisa que verdadeiramente lhe interessa.
É o que dá ser uma "Potência Regional"... devido à sua localização estratégica, à sua grande economia e às suas forças armadas.
Todos se borram de medo com estes turcos...tudo lhes é permitido.

O contragolpe turco avança a uma velocidade tal que só podia estar já preparado.
Erdogan desejava isto. 
Erdogan aproveitou para “varrer” com violência as estruturas do Estado: exército, tribunais, polícia, administração pública. A lista de detenções é tão elevada ( 6 mil até agora...) que é praticamente impossível não ter sido previamente feita, à espera de “oportunidade”. 
E não foi a oposição turca quem o disse, foi o comissário europeu Joahnnes Hahn, ao falar aos jornalistas em Bruxelas: 
“As listas já estavam disponíveis antes do evento, o que indica que isto foi preparado (com antecedência) para ser usado num determinado momento”.

A Turquia está presente em organizações como o Conselho da Europa, OTAN, OCDE, OSCE e G20. 
A Turquia iniciou as negociações de adesão plena à União Europeia em 2005, da qual é membro associado desde 1963 e com a qual tem um acordo de união aduaneira desde 1995.
Impressionante!!!!

Esta Europa está mesmo totalmente descaracterizada...
Até já andam de mãos dadas com um país totalitário a caminho da pena de morte...
Até agora fecharam os olhos a muita coisa...quero ver agora quando aprovarem a Pena de Morte e a mudança da Constituição a aumentar os poderes do Presidente, como Erdogan tanto quer.

Como disse Erdogan ontem no seu discurso...
"Os EUA também têm pena de morte, a China também, a Rússia também...muitos outros países têm a pena de morte...Só a Europa é que não."

Não abram a pestana, não...
Temos ditadura à vista...disfarçada de democracia...


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