quinta-feira, 2 de abril de 2020

O Conhecimento





Alguém se decide afinal a saber.
Monta em sua bicicleta, pedala para o campo aberto, afastando-se do caminho habitual e seguindo por outra trilha. Como não existe sinalização, ele tem de confiar apenas no que vê com os próprios olhos diante de si e no que mede com seu avanço. O que o impulsiona é, antes de tudo, a alegria de descobrir. E o que para ele era mais um pressentimento, agora se transforma em certeza.

Eis, porém, que o caminho termina, diante de um largo rio.
Ele desce da bicicleta. Sabe que, se quiser avançar, deverá deixar na margem tudo o que leva consigo. Perderá o solo firme, será carregado e impulsionado por uma força que pode mais do que ele, à qual precisará entregar-se. Por isso hesita e recua.

Pedalando de volta para casa, dá-se conta de que pouco conhece do que poderia ajudar e dificilmente conseguirá comunicá-lo a outros. Já tinha vivido, por várias vezes, a situação de alguém que corre atrás de outro ciclista para avisá-lo de que o para-lama está solto:
“Ei, você aí, o seu para-lama está batendo! — “O quê?”
— “O seu para-lama está batendo!” — “Não consigo entender”, responde o outro, “o meu para-lama está batendo!”

“Alguma coisa deu errado aqui”, pensa ele.
Pisa no freio e dá meia-volta.
Pouco depois, encontra um velho mestre e pergunta-lhe:
“Como é que você consegue ajudar outras pessoas?
Elas costumam procurá-lo, para pedir-lhe conselho em assuntos que você mal conhece. Não obstante, sentem-se melhor depois.”

O mestre lhe responde:
“Quando alguém para no caminho e não quer avançar, o problema não está no saber.
Ele busca segurança quando é preciso coragem, e quer liberdade quando o certo não lhe deixa escolha. Assim, fica dando voltas. O mestre, porém, não cede ao pretexto e à aparência. Busca o próprio centro e, recolhido nele, espera por uma palavra eficaz, como quem abre as velas e aguarda pelo vento. Quando a outra pessoa chega, encontra-o no mesmo lugar aonde ela própria deve ir, e a resposta vale para ambos. Ambos são ouvintes. ”

E o mestre acrescenta:
“No centro sentimos leveza.”



Bert Hellinger




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