quinta-feira, 9 de abril de 2020

A Intimidade do Sono







Acalmam-se os ventos,
as tempestades das ideias,
a desconexão dos nortes.
Acordar é, também, a surpresa
de se ter viajado nos caminhos do sono
onde se revela a existência
de outros mundos em paralelas existências.

Deixem-me acordar devagar
neste mundo incorrecto.
Deixem-me acordar sem neuras
nesta pressa de viver até morrer.
Deixem-me o sabor nectariano
das memórias ou, então, deixem-me
o entendimento de simbólicos pesadelos
para recordar o erro.

Deixem-me a saudade
do regresso. A preparação futura
da reintegração. Deixem-me
pelo menos os orvalhos sem ácidos,
as madrugadas iniciáticas
e deixem-me o caminho
das experiências onde me resolvo
no entendimento com o eterno
que dentro de mim reside.

Deixem-me a Obra por realizar
esta busca do Ouro da palavra.
Este mistério de nos dizermos
desde que princípio.
Deixem-me o poder das falas,
da comunicação, deixem-me
sem ódios e só com o laboratório das ideias.
Deixem-me a possibilidade das trocas
e que cada câmbio seja notícia de paz.
Deixem-me acordar
dentro do meu Paraíso.


LUÍS FILIPE SARMENTO
in, A INTIMIDADE DO SONO




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