segunda-feira, 13 de abril de 2020

Fenomenologia Religiosa





Alguém nasce na sua família, na sua pátria, na sua cultura.
Desde criança ouve falar de seu modelo, professor e mestre, e sente um desejo profundo de tornar-se e ser como ele. Junta-se a pessoas que têm o mesmo propósito, disciplina-se por muitos anos e segue seu grande modelo, até que se torna igual a ele — até que pensa, fala, sente e quer como ele.

Entretanto, julga que ainda lhe falta uma coisa.
Assim, parte para uma longa viagem, buscando transpor talvez uma última fronteira na mais distante solitude. Passa por velhos jardins, há muito abandonados, onde apenas continuam florescendo rosas silvestres. Grandes árvores dão frutos todos os anos, mas eles caem esquecidos no chão porque não há quem os queira. Daí para a frente, começa o deserto.

O viajante é logo cercado por um vazio desconhecido.
Para ele, todas as direcções se confundem e as imagens que esporadicamente aparecem diante dele são reconhecidas como vazias. Caminha ao sabor dos impulsos.

Quando já tinha perdido, há muito tempo, a confiança nos próprios sentidos, avista diante de si a fonte. Ela brota do solo e nele imediatamente se infiltra.
Porém, até onde a água alcança, o deserto se converte num paraíso.

Olhando em volta, o viajante vê então dois estranhos se aproximarem.
Tinham procedido exatamente como ele.
Seguiram seus próprios modelos até se tornarem iguais a eles. Partiram igualmente para uma longa viagem, buscando transpor talvez uma última fronteira, na solidão do deserto. E, como ele, encontraram a fonte. Juntos, os três se curvam, bebem da mesma água e acreditam que estão perto de atingir a meta. Depois, dizem seus nomes:
“Eu me chamo Gautama, o Buda.” —“Eu me chamo Jesus, o Cristo”. “Eu me chamo Maomé, o
Profeta”.

Então chega a noite, e acima deles, brilham as estrelas, como sempre brilharam, extremamente distantes e silenciosas. Os três se calam. Um deles sabe que está mais próximo do grande modelo do que jamais estivera antes. E como se pudesse, por um momento, pressentir o que Ele sentira quando conheceu a impotência, a frustração, a humildade.
E como deveria sentir-se, se conhecesse igualmente a culpa.
E julgou ouvi-Lo dizer:
“Se vocês me esquecessem, eu teria paz.”

Na manhã seguinte ele retoma, fugindo do deserto.
Mais uma vez, seu caminho o leva por jardins abandonados, até que chega a um jardim que lhe pertence. Diante da entrada está um velho, como se estivesse esperando por ele.
O velho lhe diz:
“Quem vai tão longe e encontra, como você, o caminho de volta, ama a terra húmida. Sabe que tudo o que cresce também morre, e quando acaba nutre”.

“Sim”, responde o outro, “eu concordo com a lei da terra”.
E começa a cultivá-la.



Bert Hellinger




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