segunda-feira, 8 de junho de 2020

Quando as mulheres rompem






Este mês a energia está especialmente intensa…é um mês de Eclipses…três seguidos.
Portais que se abrem para fazer uma viagem ao Passado e ao Futuro.
E como o primeiro foi um Eclipse Lunar, no dia 5 de Junho, a viagem começa por ir ao Passado.
As emoções já começaram aqui a pipocar uns dias antes.
E levaram-me até um livro que li, em 2004, um ano depois de me divorciar.
“Quando As Mulheres Rompem”, da escritora francesa Isabelle Yhuel.
Em 2003, com o meu divorcio no início do ano, tive a minha Primeira Noite Negra de Alma.
E este livro foi fundamental para me ajudar a processar a experiência.
Aprendi que é necessário aceitar morrer, para poder renascer.

Tornei-me numa mulher que rompe, que se divorcia, que parte.
Que vira as costas ao ninho que construiu.
Que abandona hábitos confortáveis e segurança, e se lança num futuro desconhecido.
Que perde bons níveis de vida, protecções, e se sujeita ao inimaginável.
  • E apesar disto tudo, o que me impulsiona?
  • Em nome de que exigência actuo?
  • Qual é a minha busca?
  • Porque é que vem um dia em que passo à acção e mando a vida passear?
  • Onde é que isto me leva?

Questionar-me desta forma é interrogar a minha consciência, é pensar que tenho uma intuição precisa das minhas condições, dos meus actos, que se pode explicar a mim mesma.
É também ter consciência de que os meus actos adultos de ruptura estão inevitavelmente ligados ás minhas primeiras rupturas de infância.
E é quando surge mais uma grande questão:
  • Nas minhas rupturas amorosas com os homens, o que é que se insinua proveniente das minhas primeiras rupturas infantis?
É a redução ao estado primitivo da matéria.
Os meus instintos que visceralmente agem em mim, me guiam.
Talvez estas rupturas ao longo da vida, sejam tempos de pausa, que me oferecem a possibilidade de me desapegar desses instintos primitivos, desses pactos inconscientes que fiz na infância de forma a poder sobreviver, mas que tanto me prejudicam ao longo da minha vida adulta.
E é quando descubro que essa é a Verdadeira Liberdade!
O Libertar-me desses pactos inconscientes que fiz na infância, o libertar-me de rupturas passadas e presentes, para poder atingir a Plenitude de Ser: um lugar onde as rupturas não são mais necessárias, onde não haja mais necessidade de abandonar, de conquistar, de competir, de querer, de explicar…

No meu divorcio, a ruptura foi um flirt com a guerra.
A guerra com o que era o marido, e também uma guerra comigo própria.
Para largar e deixar ir, foi preciso, a certo momento, detestá-lo, apenas ver os seus defeitos, as suas falhas…quase que fiz dele um inimigo. Calei em mim a parte terna, a que ainda estava tão ligada àquele homem que amei, mas que tinha de abandonar.
Foi preciso matá-lo, e matar-me um pouco a mim também.
E depois, fazer o luto.

Depois de uma ruptura, devido à sua violência, a tendência é recalcar o passado, não pensar mais nele, e esquecê-lo, apaga-lo da nossa vida…ou tentar, pelo menos. Mas isto é o contrário de fazer o luto.
E o luto tem de ser feito, para podermos seguir em frente.
Para nos libertarmos desse passado, temos de lá regressar.
O trabalho do luto é indispensável para prosseguir a vida de forma fecunda; é um trabalho de processamento e enriquecimento. Ao fazermos o luto, estamos a integrar o ex e a situação que já não existe mais para nós. O luto é o trabalho que nos permite trazer à Luz, uma a uma, cada uma das lembranças ligadas a esse ex que desapareceu da nossa vida, o que nos permite depois separarmo-nos dele pacificamente, voltarmos ao nosso centro, organizar a nossa vida a viver sozinhas, e a sentir de novo prazer e interesse. O ex perdura no nosso interior, não é excluído, mas deixa de nos provocar dor, sofrimento e mal-estar. A ligação é cortada, mas sem excluir o outro. A relação passada é vivida como um capítulo fechado da nossa história, que nos enriqueceu, que nos trouxe lições preciosas para o nosso crescimento e evolução como Seres Humanos, mas passa a ser vista e sentida como uma etapa, um pedaço de vida num caminho interior.
Simultaneamente, dou início à ruptura, abandono, quebro, despedaço, parto e…ao mesmo tempo, sinto-me guiada por um instinto poderoso.
  • Qual o EU que, no meu interior, me conduz ao rompimento?
Sempre que as rupturas acontecem, ressurgem as questões da minha infância.
E tentar compreender tudo isto é tirar pleno proveito desses momentos para morrer, e renascer para uma outra coisa, nova e mais inteira.
As rupturas para mim são como retiros para dentro de mim mesma.
Faço a triagem do que quero guardar, do que quero deitar fora.

Ao observar as mulheres em geral, chego à conclusão que vivemos a ruptura de formas diferentes:
  1. Há as que abandonam para não serem abandonadas.
  2. Há as que partem para fugir de um homem, de um modo de vida que já não suportam. Acreditam que o seu casamento foi um erro, um malogro, um longo sofrimento, sentem que não têm escolha, e para sobreviver, para conservar a sua integridade psíquica, viram as costas ao passado, por vezes sem fechar totalmente a porta.
  3. Há as que trocam um homem por outro. Ainda não fecharam a porta da antiga casa, e já constroem um lar noutro lugar.
  4. E há as que deixam um homem como consequência de um lento desamor, sem uma visão particularmente negativa do que partilharam com ele. Simplesmente chegou a hora de fechar o ciclo e iniciar um outro noutro lugar. Elas querem instalar-se sozinhas, conquistar uma Liberdade, correndo o risco de tratar por tu a solidão. É uma ruptura que não fica instalada nos choros e lamentos, mas que se torna numa experiência verdadeiramente enriquecedora, abrindo novos horizontes, e mergulhando de forma profunda no seu Verdadeiro Ser. Elas não se contentam com um presente protector, confortável e familiar. Elas não estão satisfeitas, sentem a amargura a surgir, e por isso partem em busca de uma vida que seja um itinerário, uma procura, uma descoberta. Elas têm fome de sentido, de propósito, que lhes permite ser o que desejam ser.

Em todas as rupturas, numas mais do que outras, uma hora depois de tomar a decisão torço-me de dor, tenho medo, mas vou em frente porque quero saber o que surgirá dentro de mim, quero saber que lado meu ainda me é desconhecido.
No passado, reclamei a protecção dos homens para atravessar a vida.
Era uma armadilha mas, nenhum de nós o sabia.
Hoje, tento libertar-me dela.
Não vivo mais dependente do olhar de um homem.
Não amo mais de forma infantil, com uma necessidade de ser amada para preencher um vazio interno que vinha da minha infância reprimida. Fiz-me escrava de um marido, e prisioneira de uma imagem que ele projectava sobre mim.
Na vida, há renuncias que são necessárias.

Nas rupturas não eram os homens que deixei para trás que me fazia falta.
Eu é que me faltava a mim própria.
Estava ferida, fragmentada, fissurada…com medo que essas minhas fissuras se transformassem em abismos que me levassem à morte.
Rebolei no chão, chorei, gritei, sufoquei, solucei, desesperei, babei…era uma criança ferida.
Lembro-me de ter ido à ilha do Baleal, e na beira do penhasco, açoitada pelo vento e pela chuva, era apenas eu a resistir a que o vento me devorasse, mas sem vontade que me levasse. Ali naquele penhasco, não tive o desejo de morrer – as chapadas da tempestade são demasiadas na vida, a intensidade, mas lembro-me de sentir o meu corpo a retesar-se para aguentar, e amolecer para receber a tormenta sem nela naufragar. 
É a vida que me segura.
Fui para casa, e comecei a criar as minhas regras numa casa sem homem.
E numa casa sem homem, descobri que ainda era uma mulher.
E fiz uma promessa a mim própria: 
“Que eu não duvide mais da minha condição humana, que viva a partir da ruptura, que eu olhe o mundo tal como ele é e não como eu gostaria que fosse”

Pode falar-se de ruptura sem falar de amor?
Para romper, é preciso primeiro ter caído nos braços e no coração de um homem, que ele tenha caído no nosso, é preciso Paixão. Uma queda vertiginosa, mas excitante, como tudo o que é imprevisto na nossa vida. Mas, tudo isto tem pouco a ver com a realidade.
Somos o fruto dos elementos que, desde o nosso nascimento, construíram a nossa vida psíquica: pai, mãe, irmãos, família, escola, acontecimentos exteriores, tudo o que estruturou o nosso consciente e o nosso inconsciente. E esperamos que o estado amoroso venha reparar, preencher, toda as falhas e fissuras, todas as decepções, conscientes e inconscientes, vividas na nossa vida de criança e de adolescente.
Assim, inconscientemente, uma mulher pedirá ao seu marido, ao seu amante, aquilo que a Mãe nunca lhe deu. Um homem procura numa mulher aquilo que nunca conseguiu encontrar no pai. E, sem que saibam, o inconsciente  irá guiá-los nas suas relações amorosas, e passam a procurar companheiros que encaixem nos seus sintomas.
Não é de estranhar que a maior parte das relações acabem em rupturas.
Os amantes julgam-se dois num só, nus, transparentes um para o outro, quando na realidade são uma multidão de “Eus”, conscientes e inconscientes; feridos, frustrados, fragmentados, uma metade à procura da sua outra metade…vivem na expectativa ausente e insana, frente a um Ser igualmente múltiplo e complexo. 
Nestas situações, a ruptura é um momento de extrema lucidez!
A cegueira acaba, os olhos abrem-se.
E nada mais resta, a não ser partir.
Porque, nunca duas metades virão a ser algo inteiro.

Quando somos metade de nós próprias, nós não existimos, nós dissolvemo-nos no outro.
Até aos 36 anos sempre disse que só poderia ser feliz com um grande amor na minha vida.
A minha felicidade dependia de amar e ser amada por um homem.
Que ilusão gigante!
E é nestas alturas que o caos é necessário. Para parar, afrouxar…mais vale conter-se que apressar-se. É preciso saber perder para poder vir a ganhar. Não se pode desejar uma mudança interior, uma metamorfose, sem aceitar pagar o preço. Uma vida não se pode construir evitando constantemente o risco de vir a sofrer.

Até que se aprende que podemos bastar-nos a nós próprias!
E aqui começa outro problema, porque deixa de haver espaço para o outro, para o diferente...para a Complementaridade. Consegue-se sair do Triângulo Dramático, a competição entre duas pessoas para provar quem é o Certo-Bom-Inocente...e passa-se a ser fechado ao diferente de mim, em que eu só me basto. Assim, não há polaridade, e por consequência não há evolução e crescimento, mas sim Estagnação.

Agora sei que é preciso emprestar-se aos outros, e dar-se a si mesma.
Romper é voltar a ser senhora de si mesma, é deixar de ceder-se ao outro porque se perde demasiado de si. Torna-se necessário partir.

Normalmente, a questão do dinheiro e do status social, assim como a dependência emocional e financeira, são as principais razões que fazem as mulheres ficar em casamentos mortos. São mulheres que investem demasiado afectivamente no conforto que dá o dinheiro, criam apegos fortíssimos com a vida financeira que conquistaram juntos, e por isso ficam seja lá em que condições for. Para uma mulher decidir romper e partir, ela tem de ser capaz de  aceitar o empobrecimento na sua vida após a ruptura. A sociedade favorece a todos os níveis o casamento e a família, enquanto estruturas que garantem uma estabilidade económica e social. É por isso que as pessoas se casam, para terem garantias.

Foi terrivelmente doloroso compreender que entre os meus sonhos e a minha realidade existia um abismo imenso. Encarei os factos: casamento, maternidade, aborto, divórcio, ruptura com a minha mãe e família, perda de amigos. Foi um duro período ascético, de que hoje me recordo com satisfação, pois ensinou-me a viver sozinha e o que significava ser fiel a mim mesma.
E foi quando comecei a fazer as perguntas certas a mim própria:
  • Quem sou eu? 
  • O que é o amor? 
  • Algum dia amei de verdade alguém?

Esta história da ruptura  é quase uma declaração de amor.
Se amamos alguém, amamo-lo tal como é. Não o queremos influenciar, porque se o conseguíssemos, já não seria ele. É melhor renunciar ao Ser que amamos do que modifica-lo, lastimando-o ou dominando-o.
Estamos presas na grande corrente da vida, na lenta maturação que nos faz mudar, evoluir, transformar, ou seja, viver a nossa presença de modo diferente do passado. Nós rompemos também por isso, porque nos sentimos prisioneiras, porque constatamos que será impossível com o companheiro com que estamos, crescer e evoluir o que precisamos, modificar o nosso presente, conduzir-nos a esse estado em que nós próprias ficaríamos surpreendidas. As mulheres abandonam o homem que se torna um obstáculo entre elas e a vida, que as impede de se esquecerem do que aprenderam para dar lugar às outras que elas são sem o saber. A ruptura seria então a emergência violenta do nosso outro Eu desconhecido, da outra lógica em nós,  a nossa estranheza, a nossa heterogeneidade, os critérios que nos habitam debaixo da superfície uniformizada. É a ruptura como uma chamada à ordem para os que esqueceram a existência em si dos seus diferentes EUS e da necessária tensão que os organiza.

Por um lado temos a necessidade da busca de si mesmo.
Mas por outro, também temos a necessidade da busca do outro, do amor e da sexualidade.
E esta problemática diz respeito a todo o Ser Humano.
Mas, de forma mais acentuada nas mulheres.
No início da sua vida adulta, mais do que os rapazes, as raparigas podem ter a impressão de que se vão realizar encontrando o outro, e esta ideia está nelas ligada não ao seu lado feminino, mas ao lado maternal. Elas pensam encontrar-se ao criar um bebé, o que se revela um erro de objectivo, imaturidade e amor infantil. Outras mulheres pensam realizar-se através do sucesso profissional do homem com quem casaram e que fazem a carreira do marido em busca de um status social do casal. 
Mas, não será isto renunciar a todo o ideal pessoal movidas por um sentimento de inferioridade? 
Como elas não têm confiança no seu próprio futuro, sentem-se satisfeitas quando conseguem o sucesso da carreira dos maridos. São casais virados para o exterior, sem grande interesse pela vida psíquica. 
Felizmente, as mulheres de hoje já começam a ser mais conscientes de si mesmas, e deixam um homem por o sentirem como um travão ao seu desenvolvimento e evolução.
Começam a tomar a responsabilidade do seu próprio destino, com coragem e determinação.

A ruptura é o testemunho da força da mulher, da diversidade dos seus investimentos: feminino, maternal e profissional. E quando percebem que, não podem, por causa de um homem, seguir simultaneamente  os diferentes investimentos que escolheram, rompem e vão embora.
Estes diferentes investimentos que coabitam dentro de uma mulher, faz-nos pensar em Humanismo, visto que os humanistas achavam fundamental interessar-se ao mesmo tempo por diferentes domínios, as ciências, a poesia, a literatura, a música, etc.
As mulheres, pelo seu ecletismo, são humanistas em potência.

E se nós, mulheres, mudássemos algum tempo para o outro lado, para o lado deles?
Desde muito cedo que sempre coloquei os homens frente a nós, como se eles fossem entidades fixas e invariáveis; enquanto nós, as mulheres, éramos as personalidades mutantes, mutáveis. 
Nós temos o poder de mudar, despojando-nos indefinidamente de uma pele, de outra, e de outra, na busca para atingir este âmago que nos revelaria mais de nós próprias; âmago que nunca atingiremos, mas que nos leva a essa busca que faz com que as nossas vidas sejam mais exigentes, desanimadas, desiludidas, tensas, violentas, vencidas e depois, de novo, frescas, leves, serenas, saborosas, animadas.
Mas os homens, felizmente para nós, não são essas estátuas inertes que eu pensava quando os etiquetava como “eles, os homens”. Quando um homem parte e se encontra só, na sua própria companhia, o que é feito da sua busca? São poucos, bichos em extinção infelizmente, pertencem a uma espécie raríssima. 

A maioria dos homens não abandona o lar da família; ele ajusta-se à clássica relação triangular: o homem, a mulher e a amante. E se saírem, é para se instalarem com outra mulher. Apenas alguns, muito poucos, de constituição marginal, partem voluntariamente, e voluntariamente se instalam sós por tempo indeterminado. 
Existe a eterna injustiça que caracteriza os homens como sedutores contínuos dos vinte aos setenta. Além disso, quando decidem instalar-se sozinhos aos cinquenta ou sessenta, mantêm a confiança das suas rugas de sedução, para encontrarem, quando desejarem, uma nova companheira com quem irão partilhar a sua vida. Já no caso das mulheres, no mesmo nível etário,  “perdem valor no mercado”… 
Para além disto, os homens preocupam-se pouco com as perturbações que uma ruptura  provoca na sua vida material, achando mesmo que pode melhorar visto que deixam de ter despesas altíssimas com viagens a dois, presentes, jantares em restaurantes de luxo e outras despesas generosas para embelezar as suas companheiras.
Contudo, ao contrário das mulheres que partem para se abrirem ao desconhecido, os homens não vêm a mulher como um obstáculo à sua maturação. Pelo contrário, a vida em casal proporciona-lhe facilidades para mergulhar ainda mais nos seus interesses, sem se preocupar com questões do quotidiano para gerir, visto que a mulher ocupa-se de tudo isso. 
Também um homem raramente se isola longe das mulheres. Não sente necessidade nenhuma disso, antes pelo contrário. Quando um homem vive só, rapidamente arranja aventuras, o que lhe é vital para manter uma relação saudável com a sua virilidade. Além disso, no geral, os homens fazem sexo de igual forma, quer estejam apaixonados ou não. A diferença está apenas no acordar – quando estão apaixonados sentem prazer em acordar ao lado da pessoa amada, e quando não estão apaixonados, evitam acordar com a mulher com quem tiveram sexo.
Quando um homem decide viver sozinho, não tem como objectivo  obrigar-se a uma disciplina para se elevar e evoluir; o celibato marca um período transitório que conclui uma história de amor qualificada como falhada, antes que apareça a mulher tão esperada, a que será a definitiva, a Única, a mulher da sua vida junto da qual não lamentarão o seu estado de celibatário, aquela junto da qual se sentirão livres e apaixonados…tanta ilusão!
E enquanto esperam, levam uma vida de solteiros que lhes faz recordar a sua vida de estudantes.

É preciso audácia para desenvolver a personalidade ao preço de conflitos com os outros e consigo própria, pois mudar a sua vida é também correr o risco de descobrir de seguida que as suas novas escolhas, também elas, serão apenas temporárias, não porque foram um erro, mas porque correspondem apenas a uma etapa, que nos conduzirá à etapa seguinte. Portanto, mudar implica que se aceite a noção de precariedade, quando se queria pensar que finalmente se encontrou a vida certa. Mas, enquanto permanecer confinada num casulo artificial, que sabemos já não nos alimentar, será isso a própria negação de toda a evolução psíquica?

Quando as mulheres rompem, elas procuram aquela terra desconhecida em que cada uma chegará à sua própria identidade. Elas não estão certas da sua existência, mas vale a pena tentar. 
  • Mas, porque precisam de romper? 
  • Não o poderiam fazer com os homens que amam? 
  • Porque não fazer essa viagem a dois? 
Porque o homem não quer embarcar na viagem com ela. Ele quer ser o navegador, enquanto ela é o porto de abrigo, o repouso do guerreiro, aquela que espera pacientemente o seu regresso.
Os homens têm medo das mulheres que buscam.
Até aqui, na grande maioria dos casos, eram eles que partiam em busca do Graal, em busca do tesouro, eram eles que corriam os riscos, desafiavam a morte. E por isso têm muita dificuldade em aceitar que a mulher queira construir a sua própria embarcação e navegá-la.
Depois, há os homens que nunca foram aventureiros, e que não toleram tal hipótese de risco. Esses não sentem nenhuma vocação para se conhecerem a si mesmos, constroem tranquilamente a sua vida na linha do que fizeram os seus ascendentes. A sua identidade forma-se a partir do grupo: família, escola, comunidade, e posição social. E os interesses do grupo prevalecem sobre qualquer noção de individualidade. 
Mas há mulheres que constroem a sua identidade, não a partir do que vem do exterior, mas do seu interior. Talvez porque, antigamente, no sistema de filiação, elas eram travadas a procurarem a sua própria identidade, e incentivadas a viverem em total dependência de um marido.

As mulheres não partem porque querem mas por obrigação, porque o homem com quem vivem as tenta manter naquilo que são, enquanto elas se querem transformar naquilo que poderão vir a ser. As mulheres vêem-se obrigadas a deixar os homens para serem fiéis a si próprias.

Um dia, homens e mulheres encontrarão uma outra forma de entendimento para que cada um, masculino e feminino, possa aprender ensinando o outro.
Porque, se não for no respeito e no interesse autêntico pelo outro, será absurdo falar de busca de identidade. Sem esquecer o sal da vida: o Amor…

Se as mulheres querem ser mais lúcidas, não se trata de vontade de dominar, elas também sabem ceder à sua impulsividade; se elas se pretendem mais ponderadas, isso é apenas até se inflamarem de novo na paixão; se procuram a meditação, é para se exaltarem de seguida e devolver às coisas e aos seres a sua dose latente de maravilhoso. 



Não se trata de 
viver em oposição ao outro, 
ao homem, 
nem para se tornar alguém definido, 
mas sim para, 
numa aprendizagem infinita, 
nos revelarmos plurais a nós próprias.











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