segunda-feira, 29 de junho de 2020

Aceitar e deixar ser



Is Mirek





As pessoas precisam criar rótulos para tudo o que sentem, percebem, e para toda experiência. Precisam de uma relação de gosto/não gosto com a vida, mantendo um conflito quase ininterrupto com situações e com pessoas.
Será que isso é apenas um hábito que pode ser rompido? 

Não é preciso fazer nada.
Basta deixar que cada momento seja como é. 
O ego não é capaz de sobreviver à entrega.

“Tenho tanta coisa para fazer.”
Muito bem, mas existe qualidade no que fazes? 

Falar com clientes, trabalhar no computador, realizar as inúmeras tarefas do teu quotidiano – fazes tudo isso com a plenitude do teu ser?
Quanta entrega ou recusa existe no que fazes?

É essa entrega que determina o teu sucesso na vida, e não a quantidade de esforço empreendido. O esforço implica stress, cansaço e necessidade de alcançar um determinado resultado no futuro. Se percebes qualquer indício interno que revele que não queres fazer o que estás a fazer, estás a negar a vida, e é impossível chegar a um bom resultado assim. Se percebes esse indício, também és capaz de abandonar essa má vontade e entregar-te ao que fazes.

Quando aceitas o que é, atinges um nível mais profundo. 
Nesse nível, o teu estado interior não depende mais dos julgamentos feitos pela mente do que é bom ou mau. Quando dizes sim para todas as situações da vida e aceitas o momento presente como ele é, sentes uma profunda paz interior.
A aceitação e a entrega tornam-se muito mais fáceis quando percebes que todas as experiências são fugazes e dás-te conta de que o mundo não pode oferecer-te nada que tenha um valor permanente. Ao aceitares e entregares-te, continuas a conhecer pessoas e a envolver-te em experiências e actividades, mas sem os desejos e medos do “eu” auto centrado.
Deixas de exigir que uma situação, uma pessoa, um lugar ou um facto te satisfaça ou te façam feliz. A natureza imperfeita de tudo pode ser como é.

A ironia é que, quando deixas de fazer exigências impossíveis, todas as situações, pessoas, lugares e factos ficam satisfatórios, harmoniosos, serenos e pacíficos.
Quando deixas de resistir internamente, abres-te para a consciência livre de condicionamentos, que é infinitamente maior do que a mente humana. Essa vasta inteligência pode então expressar-se através de ti e ajudar-te tanto por dentro quanto por fora. É por isso que, ao parar de resistir internamente, costumas achar que as coisas melhoraram.

Achas que estou a dizer-te:
“Aproveita o momento, sê feliz”?
Não.
Estou a dizer para aceitares o momento tal como ele é.
Isso já basta.

A aceitação e a entrega existem quando não te perguntas mais: 
“Por que isto foi acontecer comigo?”. 

A História mostra homens e mulheres que, ao enfrentarem uma grande perda, doença, prisão ou a ameaça de morte iminente, aceitaram o que era aparentemente inaceitável e assim encontraram “a paz que vai além de toda compreensão”.

Há situações em que nenhuma resposta ou explicação satisfaz.
Nesses momentos a vida parece perder o sentido.
Ou alguém em desespero pede a tua ajuda e tu não sabes o que fazer ou dizer.
Mas quando aceitas plenamente que não sabes, desistes de lutar contra a resposta usando o pensamento da tua mente limitada. Ao desistir, permites que uma inteligência maior actue através de ti. Até mesmo o pensamento pode beneficiar-se disso, pois a inteligência maior flui para dentro dele e o inspira.

Às vezes entregar-se significa desistir de querer entender, e sentir-se bem com o que não sabes. Quando te entregas, a noção que tens de ti mesmo muda. O “eu” deixa de se identificar com uma reacção ou um julgamento mental e passa a ser um espaço em torno dessa reacção ou desse julgamento.
O “eu” não se identifica mais com a forma – o pensamento ou a emoção – e reconheces-te como algo sem forma: o espaço da consciência.

Deixa que a Vida seja!



Eckhart Tolle
in, O Poder do Silêncio





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