domingo, 30 de novembro de 2014

A mulher é livre?



A MULHER É LIVRE?

Passados séculos de submissão ao homem a mulher tem, como alternativa, digamos a devoção ao Senhor. Sempre teve…

À mulher, limitada entre o casamento e o prostibulo, restou-lhe a reclusão do convento, ser freira, devotar-se a Cristo, caso pertencesse a classes ricas ou à aristocracia. Assim como às mulheres sem recursos e pobres depois foi possível irem também para freiras como forma de vida digna, se não tinham maneira de arranjar um casamento. Quando antes era uma forma de escapar a um casamento forçado, ou fugir a um escândalo de família. O que não acontece hoje em dia, em que a mulher pode ser casada e divorciar-se ou ser solteira e ter uma profissão e ser livre… tanto como pode ser devota de um mestre ou de um guru qualquer.

Mas é realmente livre a mulher dos nossos dias?
Conseguiu a mulher uma verdadeira emancipação do homem?
A resposta para mim é não.

A mulher pode ter atingido uma certa “igualdade de direitos” e alguma liberdade exterior no mundo dos homens, mas este continua a ser o mundo dos homens e das suas leis…e nunca deixou de o ser. Mas mais importante que isso é perceber que a mulher só se emancipou exteriormente, não interiormente; ela não conquistou a Liberdade de ser ela mesma, a de SER MULHER em si, mas de ser como o homem quis e fazer as mesmas coisas…
Porém, a questão essencial, é que a mulher não sabe dela, não se ligou à sua essência, não valorizou a sua natureza intrínseca, nem lhe deu a dimensão ontológica que lhe corresponde, e assim não alterou em nada a sua verdadeira escravidão, à qual continua submissa: “o amor-dos-homens…”

Essa submissão, que é “interior” e psicológica, compulsiva, dita instintiva, corresponde a um vazio de si – a uma falta de identidade própria - que corresponde por sua vez a uma fragmentação e divisão do seu ser em duas mulheres…
Quando a mulher pensa que é livre e emancipada e continua a aceitar que uma parte dela mulher seja a prostituta que se vende e a outra a mulher séria que se casa, ou a mulher competente e profissional que é notável, que se torna presidente…ela não passa de uma metade de si mesma. Ela não passa de um sub-produto da sociedade patriarcal que a explora como objecto de consumo, seja como mãe seja como prostituta. E esta questão divisão da mulher em duas versus a integralidade da mulher, da mulher que é Mulher Inteira e que não se divide, que é uma só, que assume tanto a sua sexualidade/sensualidade como a sua maternidade/afectividade, é que é a questão central e essencial a ter em consideração sobre o que é a verdadeira liberdade da mulher.

Enquanto uma mulher tiver que se prostituir, for vendida e explorada sexualmente por Máfias em todo o mundo, nenhuma mulher é livre…
Estou porém a afastar-me um pouco da ideia inicial deste texto. E eu queria falar muito em particular de como a mulher se continua a alienar dela mesma no “amor do homem ou na devoção do guru”…

Não digo que uma coisa ou a outra não possam existir, sem dúvida que sim, e fazem parte da vida de uma mulher, mas o que importa aqui realçar é que a mulher se projecta tanto no amor do homem como na devoção ao guru por insuficiência, por vazio, por compensação e não por amor nem devoção verdadeiras… Para isso ela precisava de ser inteira…de ser ela mesma primeiro, e não é…

A mulher está em busca dela mesma, mas não se encontra em si dentro dela, a partir das suas raízes ou da sua essência feminina, mas percorrendo o caminho dos homens absorvendo a sua cultura e a sua história e beber dos seus mestres que sempre a excluíram e dela fizeram apenas uma consorte ou serva do senhor…subalterna e retirada de ritos e do púlpito.
Quando não ostracizada e considerada impura, quer no ocidente quer no oriente…ela apenas serve o marido, o homem e a deus…ela não tem vida própria, não pode viver em função de si e para si, tal como o homem pode.
E eu só me pergunto o que é que mudou nas gerações actuais das mulheres que seguem esses gurus - sejam indianos sejam ocidentais – e que dependem deles, como do olhar do homem, para serem...ou de quem têm filhos!

Mas há ainda um outro aspecto interessante nisto…é que há um crescente número de mulheres que se tem vindo a tornar devotas da DEUSA…e o que isso pode significar, não um caminho da Mulher para si, um encontro com essa essência e o aprofundar da sua natureza ou a integração das duas mulheres…mas sim e apenas ela servir-se desse caminho para melhor seduzir e agradar aos homens…mantendo assim as formas de escravidão e de vazio que as caracteriza como sub-produto da sociedade patriarcal. E essa é para mim além de um retrocesso da sua liberdade, é uma traição enorme à mulher em si, à sua Essência e à Deusa …

Devotas de senhores não me arrepiam, acho-as apenas candidamente ignorantes.

Arrepiam-me sim...as que pensam que são deusas, devotas da Deusa, representantes da Deusa, escolhidas da Deusa, que dançam para atrair sexualmente homens, que canalizam a Deusa mas as canalizações consecutivamente fazem uso da palavra "Eu Sou" (mas não foi isso que disse a Árvore Incandescente a Moisés?) , que acham que são os homens que mais as entendem e não as mulheres, que se escandalizam perante outras linhas de espiritualidade que não as suas (no bom espírito inquisidor), que se ajoelham perante a Deusa e pedem vingança e castigo para uma outra mulher que invejam, as que têm um corpo dotado com vagina mas que servem os mesmos paradigmas sociais-executivos-legislativos-governativos masculinos!
E acrescento à colecção, as aprendizes de pagãs que mantêm uma mentalidade maniqueísta, as mulheres que se juntam em grupos para tentar vencer outras mulheres, mulheres que se escondem por detrás das palavras ou da imagem de uma mulher que consideram forte para tentarem vencer uma mulher que não conseguem vencer pelos seus próprios meios.

Sim, estas mulheres existem e estão votadas ao meu desprezo!”

Ananda Krishna Lila


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