É comum que, em nossa rotina pessoal ou profissional, tenhamos que ouvir coisas que não nos agradam, seja por que consideramos que estamos certos, que é injusto ou grosseiro. Esses pequenos atritos nos ferem, pois nos sentimos atingidos, racham nossa “redoma de vidro”, aquela que usamos quotidianamente para nos proteger.
Com o tempo e os atritos, as redomas racham e partem-se, resultando em feridas profundas que podem gerar uma série de transtornos psicossomáticos. Como pássaros de asas partidas, desmotivamo-nos, sentimo-nos podados, como se a habilidade criativa de “voar” nos tivesse abandonado. Culpamos o outro, criando a imagem do demónio encarnado, tão entranhada culturalmente. Sonhamos com uma liberdade movida pela fantasia.
Para fugir dos atritos, distanciamos-nos daquilo que fere, o que supostamente resolveria os problemas.
A pergunta que faço a vocês, leitores, é: até quando?
Até que apareça à nossa frente o próximo demónio, aquele que novamente irá martelar a redoma de vidro até rachá-la.
Se analisarmos profundamente a causa da dor, podemos nos surpreender ao descobrir que o problema não está na pancada que levamos e sim em nossa redoma de vidro.
Quando a usamos, somos frágeis e susceptíveis.
A Vida não nos toca com luvas de pelica e sim com pancadas e empurrões, não para nos torturar, mas sim para nos tornar mais conscientes de nossos erros. Mas, quando usamos as redomas, qualquer pancada pode nos rachar, seja ela intencional ou (na maioria das vezes) não.
O que supostamente nos protege também nos torna insensíveis, pois como sentir o outro quando se está isolado em sua própria redoma?
Os que atropelam os demais sem perceber são aqueles que se vitimizam quando alguém ousa tocar-lhes.
Enquanto vivermos numa redoma de vidro, seremos infelizes, pois não saberemos de fato o que é viver. Não saberemos o que é sentir a brisa do vento em nossos cabelos ou atravessar uma tempestade. Não sentiremos sabores ou cheiros diversos.
Viveremos protegidos pelo preço de sermos escravos de nós mesmos.
Se você desconfia que vive sobre uma redoma de vidro, agradeça o próximo que lhe der uma pancada forte o suficiente para rachá-la, ainda que isso o faça sofrer. Quando as adversidades da vida vierem, e você não se sentir vítima do destino, mas encará-las como parte natural da vida, assim como há dias frios e outros quentes, terá a certeza de que começou a viver.
Isabella Galvão
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