Sexo é sinónimo de prazer.
Erotismo, luxúria, pecado, sacanagem.
O sexo traz em si um cenário de mil e uma noites de promessas, todas voltadas para a volúpia.
Quem nunca praticou é tomado por fantasias libidinosas extraídas do cinema, das revistas masculinas e de piadas e relatos picantes que garantem não existir nada melhor na vida, para horror dos sentimentais e dos pudicos.
Sexo melhor que amor?
Heresia, fim do mundo.
Faltou dizer que sexo não é apenas prazer:
Ele é plural, dispara uma conjunção de sensações físicas de alta intensidade que comovem e podem nos levar à paixão — se não pelo outro, com certeza por nós mesmos, tamanho é o processo de autoconhecimento que ele dispara.
Não estou falando, obviamente, dos encontros de uma noite só, as chamadas "one night stand", em que mal se sabe o nome da pessoa com quem estamos e cuja finalidade é praticamente aeróbica, uma aventura para apimentar o quotidiano.
Ato sexual não é a mesma coisa que relação sexual.
Quando há relação, todos os sentimentos do mundo invadem a cama — e de uma forma tão contraditória que começa aí o espanto e a graça da coisa.
Podemos, em nossa rotina de trabalho, ser um funcionário obediente, cumpridor de horários, servo de nossos patrões, e à noite, na cama, sermos dominadores, entrando no jogo erótico de assumir o controle e dar ordens. Ou, ao contrário: depois de um dia liderando e estimulando vários profissionais, nos tornarmos submissos sobre os lençóis, a ponto de escutarmos palavras que normalmente nos ofenderiam e humilhariam, mas que, naquele momento, se prestam ao cenário e à cena: excitação resulta de alguma performance também.
Esta variação de comportamento, ao mesmo tempo inocente e indecente, só é possível porque temos a segurança de saber que naquele instante não haverá julgamento moral, e sim entrega absoluta — e rara.
Sexo envolve plena confiança, ou ficaríamos travados, temendo cair no ridículo.
Desperta a coragem para permitir que nossos desejos mais secretos sejam expostos e realizados.
Exige compreensão do tempo que cada um precisa para se desnudar de seus pudores.
Requer um olhar generoso e terno para a desinibição do outro e, sobretudo,
Inteligência — sim, inteligência — para lidar com tudo que há de estranho, ilógico e dicotómico neste embate íntimo.
Costumamos valorizar o corpão (que a maioria não tem), mas uma cabeça boa é que faz toda a diferença entre o sexo vigoroso e o sexo protocolar.
Diante desta universalidade de sensações,
faz sentido dizer que sexo vale menos que amor?
Essa hierarquia só existe para os excessivamente românticos, apegados aos contos de fada.
Não é por acaso que transar é sinónimo de "fazer amor", pois é disso mesmo que se trata, de um êxtase emocional e não apenas físico (ainda que "fazer amor" seja uma expressão enjoada).
Sexo pode ser bandido, perverso e impuro em sua essência, nunca em sua conotação.
Em análise, sexo é sublime também.
Martha Medeiros
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