sexta-feira, 5 de maio de 2017

Pela Estrada Fora, a bíblia da geração Beat





Todas as Terras Douradas à tua frente e todos os tipos de eventos imprevistos, estão à espreita para te surpreender, e fazer-te feliz por estares vivo para ver!



Vive, viaja, aventura-te, abençoa e não te arrependas!



Eu estava surpreso, como sempre, por descobrir como era fácil ir embora, e como isso me fazia sentir bem.
O mundo, de repente, estava cheio de possibilidades.



Nada atrás de mim, tudo à minha frente, como acontece sempre na estrada.



Estrada sagrada, estrada louca, estrada arco-íris, estrada do peixe, qualquer estrada.
É uma estrada em algum lugar para alguém de alguma maneira.
A pureza da estrada.
A linha branca no meio da estrada desenrolava e abraçava a nossa roda esquerda como se estivesse colada ao nosso groove.



Para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante pop pode-se ver um brilho azul intenso até que todos caiam no "aaaaaaaaaaaaaah!"
Como é mesmo que eles chamavam esses garotos na Alemanha de Goethe?




Aqui estão os loucos.
Os desajustados.
Os rebeldes.
Os criadores de caso.
Os pinos redondos nos buracos quadrados.
Aqueles que vêem as coisas de forma diferente.
Eles não gostam de regras.
E não respeitam o status quo.
Podemos citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los.
Mas a única coisa que não podemos fazer é ignorá-los.
Porque eles mudam as coisas.
Empurram a raça humana para a frente.
E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais.
Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo,
são as que o mudam.




Eu não tenho nada para oferecer a ninguém, exceto a minha própria confusão.




Oferece-lhes aquilo que mais desejam secretamente;
é claro que entrarão em pânico imediatamente.




Não é verdade que começas a vida como uma criancinha crédula sob a proteção paterna?
E então chega o dia da indiferença, em que descobres que és um desgraçado, um miserável, fraco, cego e nu, e com aparência de um fantasma fatigado e fatídico avanças trémulo por uma vida de pesadelo.




Qual é a tua estrada, homem? - a estrada do místico, a estrada do louco, a estrada do arco-íris, a estrada dos peixes, qualquer estrada...
Há sempre uma estrada em qualquer lugar, para qualquer pessoa, em qualquer circunstância.
Como, onde, por quê?




Homens e mulheres cometem erros - erros, falhas, pecados, faltas - seres humanos semeiam com problemas a sua própria terra, e tropeçam nas pedras da sua imaginação falsa e errada, e a vida é dura.




Um dia hei-de renascer numa grande cidade de outro sistema planetário, no passado ou no futuro, onde uma única montanha de 5 quilómetros de altitude se recorta no céu azul - com toda a compaixão que sinto dentro de mim, a única coisa que vou precisar é da sabedoria da terra.



E percebo que não importa onde eu esteja, seja num quartinho repleto de ideias, ou neste universo infinito de estrelas e montanhas, tudo está na minha mente.
Não há necessidade de solidão.
Por isso, ama a vida como ela é e não formes ideias preconcebidas de espécie alguma na tua mente.




Basta dizer que não estou a amar.
Talvez eu seja ‘indomável’ demais para casos de amor prolongados.
O que mais preciso é do mundo.
Nunca seria capaz de dizer, nos braços de uma mulher, o mesmo que um herói de Wagner:
‘Deixa-me morrer!’.
Quero viver… e ver mais do mundo.
Deus sabe porquê, e o amor de uma mulher é um dos muitos amores indomáveis.
Uma coisa é certa: a paixão goetheana não é a minha. Há irritação, agitação, ‘loucura’ demais em mim para esse estado de languidez. Preciso correr, sempre.
Só dois tipos de mulher servem para mim: uma louca Edie que iguala a minha própria impaciência e loucura e horror, até a exaustão de um de nós; ou uma miúda simples (parecida com a minha mãe) que absorve e compreende e aceita isso tudo.
Ontem mesmo uma mulher em San Francisco sufocou o seu bebé até à morte porque ela ‘não queria que qualquer outra pessoa o tocasse’.
De fato, sim, ‘deixa-me morrer’ numa paixão wagneriana… vou acreditar no que Leon Robinson diz em ‘Viagem ao fim da noite’ — ‘estou bastante ocupado a tentar manter-me vivo’.
E junto a isso… ‘e me divertindo loucamente’ com isso.
Isto começa a indicar a falta de amor peculiar da minha posição nos últimos 3 anos, talvez nos últimos 26 anos… e nunca gostei tanto de uma ideia sobre mim mesmo, sério, e acho que isso também significa algo: espontaneidade é a palavra que mais me agrada…
Por Deus, não é todos os dias que se encontra um álibi perfeito para si mesmo, e o mais impressionante é que é tão brutalmente verdadeiro!


Não é que eu não consiga me apaixonar, é que eu não consigo me apaixonar por várias coisas de uma vez só. Então talvez entendas porque eu não consigo distinguir o que é platónico e o que não é, porque tudo é demais e não é o suficiente ao mesmo tempo.



Raparigas e rapazes da América têm curtido momentos realmente tristes quando estão juntos; a artificialidade os força a submeterem-se imediatamente ao sexo, sem os devidos diálogos preliminares.
Nada de galanteios — um profundo diálogo de almas, pois a vida é sagrada e cada momento é precioso.



A única coisa pela qual ansiamos nos nossos dias de vida, e que nos faz gemer e suspirar, sujeitos a todos os tipos de dóceis náuseas, é a lembrança de uma alegria perdida, provavelmente experimentada no útero, e que somente poderá ser reproduzida (apesar de odiarmos admitir isso) na morte.
Mas quem quer morrer?



Agora olhem esse pessoal aí na frente.
Estão preocupados, a contar os quilómetros, a pensar onde irão dormir esta noite, quanto dinheiro vão gastar em gasolina, se o tempo estará bom, de que maneira chegarão ao destino. . . e, quando terminarem de pensar, já terão chegado aonde queriam, percebem?
Mas eles têm que se preocupar e trair os seus horários, cada minuto e cada segundo, entregando-se a tarefas aparentemente urgentes, todas falsas, ou então, a desejos caprichosos angustiados e angustiantes; as suas mentes jamais descansam, não encontram paz, a não ser que se agarrem a uma preocupação explícita e comprovada, e, depois de encontrar uma, assumem expressões faciais adequadas, graves e circunspectas, e seguem em frente, e tudo isto não passa, sabem, de pura infelicidade, e durante todo esse tempo a vida passa a voar por eles, e eles sabem disso, e isso também os preocupa, num círculo vicioso que não tem fim.



Porque no final, não te vais lembrar do tempo que passaste no escritório ou a cortar a relva.
Sobe aquela maldita montanha!





Jack Kerouac
in, On The Road






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