quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A Mulher-Esqueleto


Elena de Petra



Clarissa Pinkola Estés, no seu livro Mulheres que Correm com os Lobos e especificamente na história intitulada: A Mulher-Esqueleto, fala que o ser humano para viver em harmonia com os outros, nas suas relações de afecto, precisa de enfrentar o que ele mais teme, foge e que não tem como escapar – A natureza de vida-morte-vida do amor.
Esta história é verdadeiramente a história de caça a respeito do amor.

Gostaria de ressaltar que nas histórias de Clarissa, existem materiais que podem ser
compreendidos como um espelho refletindo tanto a doença quanto a saúde da nossa própria vida interior – da nossa psique.

Segundo a autora, para cada relação de amor duradoura, um terceiro parceiro se faz presente nessa união, quer queiramos ou não. Esse terceiro parceiro é justamente a mulher-esqueleto ou como ela é chamada: A Morte.
Contudo, a morte não é um mal como é conhecida no Ocidente – nessa apresentação ela é uma divindade.

Esta mulher-esqueleto precisa ser acolhida pelos dois amantes para criar um amor duradouro.
Nessa relação ela sabe exactamente quando algo precisa morrer, ou quando um ciclo precisa se fechar para que outro surja. 

Quando olhamos e abraçamos a mulher esqueleto, vemos que o amor não é algo que vamos “obter”, mas sim algo gerado em ciclos de morte e de vida com seus fluxos e refluxos.

Nos dias actuais, observamos nas relações de amor justamente esse medo da natureza da vida-morte-vida, especificamente do aspecto morte. Qualquer que seja o final, o ser humano teme e esquece que num único relacionamento amoroso existem muitos finais.

Outro aspecto importante é que numa relação amorosa passamos boa parte do tempo a fingir que podemos amar sem que morram as nossas ilusões, expectativas, a voracidade de querer tudo, de querer que nada mude e de querer que tudo permaneça lindo no amor.
A tentativa de querer forçar o amor somente no seu aspecto positivo é o que faz com que o amor acabe por morrer para sempre.

Para Clarissa, amar significa emergir de um mundo de fantasias para um mundo real, onde o amor duradouro é possível. Amar significa ficar com, mesmo quando cada célula manda fugir.
E a nossa tendência é fugir dos relacionamentos no momento em que verdadeiramente conhecemos o outro, quando vemos seus limites e suas fragilidades ou mesmo quando o prazer sexual diminui. Mas é nessa hora em que algo precisa morrer – nossas ilusões – para que o novo possa nascer: o verdadeiro amor. E é nesse momento também que perdemos a oportunidade de demonstrar coragem e de conhecer o amor.

Quando num relacionamento amoroso, por ventura, chega o momento onde as coisas ficam complicadas, embaraçadas, receamos que o fim esteja próximo. Isso é um equivoco. Esse é só um ciclo que precisa morrer e é preciso encarar de frente a mulher-esqueleto, pois ela está presente na relação, o vinculo já está formado – Ainda bem!

O amor em sua plenitude é uma série de mortes e de renascimentos. 
Deixamos uma fase, um aspecto do amor e entramos em outra.
A paixão morre e volta, a dor é espantada para longe e vem à tona mais adiante.
Amar significa abraçar e ao mesmo tempo suportar inúmeros finais e inúmeros recomeços – todos no mesmo relacionamento.

Palavras de Clarissa:
“Para amar é preciso não só ser forte, mas também sábio. A força vem do espírito. A sabedoria, da Mulher-esqueleto” 

E com um poema da mística mexicana Rosario Castellanos:

…dadme La muerte que me falta…
…dá-me a morte que preciso…



Gianini Ferrari 
Psicóloga Clínica


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