quarta-feira, 27 de maio de 2015

Don Juan



Actor andaluz Fran Perea, no papel de Don Juan



"Centrando-se numa das figuras românticas mais famosas da literatura e da ópera, o impetuoso sedutor Don Juan, a análise sociopsicológica de Winter baseia-se largamente no estudo da frequência de certos temas em documentos literários. Winter observa que, apesar da obrigatória condenação das acções de Don Juan como “perversas” e “malditas”, ele é de facto idealizado como “o maior sedutor de Espanha”. Assinala também que os motivos subjacentes de Don Juan são a agressão, o ódio e o desejo de humilhar e punir as mulheres – não os impulsos sexuais. Nota ainda algo de profunda importância psicológica e histórica: as atitudes extremamente hostis para com as mulheres são características de épocas em que as mulheres sofrem a máxima repressão por parte dos homens.

O caso clássico relevante que cita é o da Espanha onde emergiu a lenda de Don Juan, quando os espanhóis das classes superiores haviam adoptado o “costume mourisco de manter as mulheres em isolamento”. A razão psicológica por detrás desta hostilidade acrescida, explica Winter, é o relacionamento mãe-filho tornar-se particularmente tenso em períodos assim – a par da generalidade das relações feminino-masculino.

Contextualmente, torna-se evidente que a “motivação de poder” de Winter é, na nossa terminologia, a pulsão androcrática para conquistar e dominar outros seres humanos. Tendo estabelecido ser o rebaixamento das mulheres por parte de Don Juan uma manifestação desta “motivação de poder”, Winter tabula então a frequência das histórias sobre Don Juan na literatura de uma nação relativamente aos períodos de expansão imperial e de guerra. O que documentam as suas descobertas é aquilo que nós prediríamos socorrendo-nos do modelo de alternância gilânico-androcrático: historicamente, as histórias do mais famoso arquétipo de dominação masculina sobre as mulheres aumentam de frequência antes e durante os períodos de militarismo e imperialismo exacerbados.”


in, O Cálice e a Espada
Riane Eisler



Don Juan, personagem lendária da literatura espanhola criado por Tirso de Molina.
As visões acerca da lenda variam de acordo com as opiniões sobre o caráter de Don Juan, apresentado dentro de duas perspectivas básicas.
De acordo com uns, era um mulherengo barato, concupiscente, cruel sedutor que buscava apenas a conquista e o sexo.
Outros, porém, escreviam que ele efectivamente amava as mulheres que conquistava, e que era verdadeiramente capaz de encontrar a beleza interior da mulher.
As versões primitivas da lenda sempre o retratam como no primeiro caso.

Existe o Don Juan Tenório, do escritor José Zorilla, já envelhecido.
Don Juan de Cárcamo, de Miguel Cervantes.
Don Giovanni Tenorio, de Carlo Goldoni.
Don Juan Triunfante, no Fantasma da Ópera.
Don Juan, de Honoré de Balzac.
Don Giovanni, de José Saramago.
E claro, o Don Juan de Lord Byron.

Don Juan é uma das obras mais conhecidas de Lord Byron, sendo a que mais retrata a vida pessoal do autor.
A obra não foi concluída devido à morte de Byron.
É um poema satírico, bem ao estilo de Byron, baseado na lenda do Don Juan de Sevilha, que tinha fama de mulherengo.
Byron considera que ele não era mulherengo, mas sim muito facilmente seduzido pelas mulheres.
Relata que eram sempre elas que o seduziam a ele.
Ele completou 16 Cantos, deixando o 17º incompleto devido à sua morte em 1824.
Retrata a tragicomédia que foi a vida de Byron.

A Obra retrata um Don Juan vitimado por uma educação católica repressiva, sendo fruto inocente desta visão distorcida. Neste poema Don Juan é iniciado no verdadeiro amor pela bela filha de um pirata, Haidée, que o vende depois como escravo para a esposa de um sultão, a fim de satisfazer-lhe os desejos carnais.
O Don Juan de Byron é menos sedutor e mais uma vítima dos desejos femininos e de seus infortúnios.

Beppo e Don Juan são descontraídos no que diz respeito ao sexo, adultério, etc...mas não compulsivos.
Byron era considerado escandaloso, perverso, porque era irreverente:
Escarnecia da religião e das instituições religiosas, fazia pouco do Céu e da Vida Eterna, gozava com o Rei, era contra a servidão, era bastante atraente e tinha sempre mulheres apaixonadas por ele o que dava a entender que ele andava sempre a seduzir as mulheres e a usá-las em seu benefício.
Para além disso, era apaixonado por Augusta, a meia-irmã de Annabella.
Acabou por se casar com Annabella.
Mas cedo se separaram, e Annabella e a filha Ada foram viver fora de Londres e Byron nunca mais viu a filha.
Por isso haviam rumores de incesto e de loucura em torno de Byron.
Depois da separação, Byron lidou mal com os rumores e com as calúnias e foi para o estrangeiro, entre várias cidades, Veneza, onde teve muitas amantes, umas solteiras outras casadas, e prostitutas.
Byron tinha 30 anos na altura.
Depois apaixonou-se e pelo que consta foi fiel até ao resto da vida.

Por isso, é considerado por vários escritores ingleses, não como um sedutor, mas sim como um objecto de sedução. Tinha muitas mulheres que o queriam e o desejavam, tal como escreve em Don Juan.
Tom Disch, diz que Byron se assemelhava mais a Valentino.
A grande habilidade de Valentino era a forma como conseguia sugerir estar dominado pelo sentimento, principalmente sentimento erótico, e isso podia levá-lo a fazer coisas erradas, mas as mulheres eram arrastadas pelos sentimentos que pareciam provocar nele, e alinhavam de bom grado.

Byron poderia ser um daqueles homens que parecem ligar toda a sua necessidade de carinho, conforto e segurança física, ao sexo.
Acontece, principalmente aos homens que crescem sem mãe, ou que tiveram relações conflituosas com a mãe, como foi o caso de Byron.

Acho muito interessante esta relação tão próxima entre a Obra Don Juan e a vida de Byron, o seu autor.
Há um outro livro, "O Manuscrito Perdido de Lord Byron" de John Crowley, que já li há uns anos, que fala muito sobre isto, e que despertou ainda mais a minha curiosidade na altura...

É a outra face da moeda...

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