sábado, 10 de janeiro de 2015

As consequências do atentado ao Charlie Hebdo

Pois é... esta histeria colectiva, este "todos somos charlie" já está a produzir resultados.

Le Pen pede referendo sobre a pena de morte!
Resposta da extrema-direita: Pena de morte, fechar fronteiras e lutar contra o multiculturalismo. O regresso da pena de morte, fechar fronteiras e banir o Islão.

Imaginam o retrocesso civilizacional que estamos dispostos a fazer para combater o medo?
Já pensaram que é exactamente isto que querem?
Pôr-nos ao mesmo nível deles?
Que nos cortem as liberdades individuais em nome de um pretenso combate ao terrorismo (que financiamos quando nos convém)?
Que a "guerra religiosa para a qual nos querem empurrar é a arma deles?

EU NÃO SOU APENAS CHARLIE.
Eu sou charlie, sou mohamed, sou isaac, sou o sentimento de todos os que morrem estupidamente. Sou as crianças palestinas que morrem debaixo de bombas, sou os cristãos que morrem na siria, sou os curdos que morrem na Turquia.

Não sou acéfala, e uma charlie da moda porque a vida tem o mesmo valor em todas as partes do mundo. Tanto me importa que seja França, seja Palestina, seja Iraque, sejam Estados Unidos.
Só serei charlie quando vir os charlies de hoje serem mohamed quando morrem crianças, vitimas dos nossos "danos colaterais" (um belo eufemismo para a palavra assassínio)
Só serei charlie quando as TVs, derem a mesma cobertura ao assassínio de inocentes na Síria, no Bahrain, na Arábia Saudita, Em França.
Quando olharmos para a democracia e para os direitos humanos num país pelo seu respeito, e não pelos interesses imediatos que temos nele.

Incómodo, polémico, para outros, frio.
Para muitos outros, seguindo a dicotomia do bom e do mau, se não sou pelos bons, sou pelos maus. Pouco me importa.
Eu sou eu, o que penso e o que sinto.
Não o que me levam a sentir, nem o que me induzem a pensar.

Serei sempre charlie, serei sempre mohamed.
Serei sempre contra a morte de inocentes, serei sempre contra a pena de morte.
Não pactuarei nunca com quem nos restringe a liberdade, em nome do medo dos que nos querem "roubar" a liberdade.
Vendem-nos o medo do lobo mau, enquanto nos conduzem para a boca do.. lobo bom.
A situação que estamos a viver é um bife do lombo para quem nos quer a viver com medo para nos enfraquecer. É um bife do lombo para quem nos quer a viver com medo para nos controlar.
Para mim é apenas um isco preso a dois anzóis.


"Não se vence a hipócrisia quando ela compensa" 
AMR-UHF


Mas pergunto.. essa liberdade de expressão é a mesma que me impede (e bem) de fazer apologia a ideologias fascistas ou fascizantes?
É a mesma que me impede (e bem) de defender, usar ou incentivar as ideologias nazis ou neo nazis?
Ou é aquela que me impede (e bem)de dizer que os judeus são vigaristas ou os ciganos ladrões (xenofobia)??? Não seria bom que essa mesma liberdade de expressão me impedisse também (e bem) de gozar com o deus de cada um? Seja cristão, seja deus, seja alá, seja buda, seja o sol?

O ataque não foi só à nossa liberdade de expressão, mas também à democracia podre e à nossa forma de viver...

Mas também é preciso olhar para o reverso da medalha.

Esta capa do Nº 1099 de Charlie Hebdo...



Gozar com o assassinato de 1200 pessoas, aproveitando para ofender a sua religião, é liberdade de expressão?

Banalizava o massacre de mais de mil egípcios por uma brutal ditadura militar, com o beneplácito da França e dos Estados Unidos, através de uma manchete que dizia qualquer coisa como “Matança no Egipto. O Corão é uma merda: não pára as balas”.
A caricatura era a de um homem muçulmano crivado de balas, enquanto se tentava proteger com o Corão.
Pode haver a quem isto pareça ter graça.
Também, na sua época, colonos ingleses na Terra do Fogo achavam que tinha graça posar em fotografias junto aos indígenas que tinham “caçado”, com amplos sorrisos, carabina na mão, e com o pé em cima do cadáver ensanguentado e ainda quente.
Em vez de ter graça, essa caricatura perece-me violenta e colonial, um abuso da tão fictícia como manipulada liberdade de imprensa ocidental.

Que aconteceria se eu fizesse agora uma revista cuja primeira página tivesse a seguinte frase: “Matança em Paris. Charlie Hebdo é uma merda: não pára as balas” e fizesse uma caricatura do falecido Jean Cabut crivado de balas com uma cópia da revista nas mãos?

Claro que seria um escândalo: a vida de um francês é sagrada.
A de um egípcio (ou de um palestino, iraquiano, sírio, etc.) é material “humorístico”.
Por isso não sou Charlie, uma vez que a vida de cada um desses egípcios baleados é para mim tão sagrada como a de qualquer desses caricaturistas hoje assassinados.

Já sabemos o que vai acontecer:
Haverá discursos a defender a liberdade de imprensa por parte dos mesmos países que em 199 deram a bendição ao bombardeamento da NATO, em Belgrado, à estação de TV pública da Sérvia dizendo que era “o ministério das mentiras; que se calaram quando Israel bombardeou em Beirute a estação de TV Al-Manar em 2006; que calam os assassinatos de jornalistas críticos colombianos e palestinos. Depois da bonita retórica pró-liberdade virá a acção liberticida; mais macartismo vestido de “anti-terrorismo”, mais intervenções coloniais, mais restrições a essas “garantias democráticas” em vias de extinção, e em consequência, mais racismo.

A Europa consome-se numa espiral de ódio xenófobo, de islamofobia, de anti-semitismo (os palestinos são, de facto, semitas) e este ambiente é cada vez mais irrespirável. Os muçulmanos na Europa do século XXI são já os judeus, e os partidos neo-nazis estão a tornarem-se novamente respeitáveis 80 anos depois, graças a este sentimento repugnante.
Por tudo isto, apesar da repulsa que me causam os ataques de Paris, Je ne suis pas Charlie.

É claro que é liberdade de expressão, e quem não souber conviver com ela ainda tem muitos países onde não a praticam, onde podem viver felizes para sempre!

O Charlie Hebdo era e é um jornal satirico.....e claro está que só o compra quem o quer ler.
É portanto um jornal diferente, que existe da mesma forma que existem muitas outras revistas e publicações especializadas em diversos domínios e que encontram os seus leitores na diversificada população que por nós é composta.
E em nada se necessita dar explicações se, se compra ou não ou se se gosta ou não.

Portanto não encontro grande interesse em expor as razões (pessoais) porque se é ou não Charlie !! Cada um é o que quer ser ....com as suas próprias ideias e convicções.

Mas, para mim, isto teve pouco de ataque contra a liberdade de expressão!!!
Eles estão se cagando para a liberdade de expressão...
Houve um ataque à liberdade de expressão, mas não é este o objectivo estratégico. 
Por que não atacam a direita anti-islâmica? 
Porque não interessa.

Querem criar uma confusão que visa comprometer todo o sistema. 
Mas o que os terroristas querem é movimentar a opinião massiva. 
Eles sabem que o sentimento xenófobo se vai exacerbar, e isso pode gerar políticas militaristas de intervenção no Oriente Médio – isso tudo interessa ao Estado Islâmico, um grupo que não está ligado à ideia de construir um Estado, está ligado em construir guerra.

Isto é apenas o início de uma Guerra Jihadista contra o mundo!

Quem iniciou isto foi o Bush, com a ajuda do Blair com o 11 de Setembro...
É que no final das contas, o fundamentalismo e os grupos de ultra-direita xenófobos se alimentam. 
Foram feitos um para o outro. 
Este jogo frio envolve dinheiro; poder político, económico e geoestratégico; e controle militar. 
Como sempre!!!!

E enquanto o Charlie atrai todas as atenções, por ser francês...
Na Nigéria esta semana morrem 2 mil pessoas!!!
Na Nigéria, segundo aponta a Amnistia Internacional, o ataque ocorrido na quinta-feira (8), pelo grupo Boko Haram matou duas mil pessoas, principalmente mulheres e crianças, na cidade de Baga e centenas de corpos continuam espalhados.
Os atiradores têm como objectivo recuperar o controle de Baga, na fronteira com o Chade, onde os insurgentes tomaram uma base militar no dia 3 de Janeiro de 2015.
As acções do grupo radical já dura há cinco anos, e matou mais de 10 mil pessoas apenas em 2014.
Mais de um milhão de pessoas estão deslocadas, dentro da Nigéria, e centenas de milhares fugiram pelas fronteiras com Chade e Camarões.
Somos todos Baga?
Não me parece...nem se fala no assunto...


Ainda hoje...
Massacre no Paquistão: mais de 140 crianças são mortas em ataque terrorista à escola... 
Seremos todos paquistaneses?

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