quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

As Novas Solidões


Li no mês passado "As Novas Solidões", de Marie- France Hirigoyen, que analisa estados de solidão vividos com energia e inspiração, por homens e mulheres na nossa sociedade, mas também o isolamento sofrido de muitos de nós. 
Voltarei a vos falar deste livro.
Por agora, uma breve passagem:


"Depois da separação, é raro as mulheres procurarem de imediato voltar a viver a dois no sentido tradicional.
Elas consideram que precisam de um certo período de recuperação, sozinhas, para se recompor, reconstruir.
Para uma nova vida a dois, elas impõem condições, como explica Lara , 45 anos:
 
Não me importo de voltar a viver com alguém, mas é preciso que valha a pena. O outro tem de me dar algo mais, não apenas a sua presença, mas também segurança material, introdução a um ambiente social mais educado e, sobretudo, um estímulo intelectual, cultural ou uma abertura para um mundo desconhecido.

A maioria das mulheres já não quer as relações de força que uma relação amorosa implica muitas vezes; estão cansadas dos jogos de sedução, das tomadas de poder de um e de outro, do receio permanente de serem deixadas. Algumas mulheres tentam encontrar um novo companheiro, mas têm consciência de que, para isso é preciso preparar-se.
Em primeiro lugar, têm de virar a página da vida passada; depois, organizar-se, mostrar-se feminina – pois os homens procuram mulheres sexy que estimularão a sua libido -, dar a ilusão de ligeireza – pois uma mulher atormentada não é atraente - , saber todavia gerir problemas  de intendência – pois um homem não gosta de olhar para um futuro com problemas – e fingir felicidade – pois como seduzir quando se toma antidepressivos com o aperitivo?

Perante tantos esforços, algumas mulheres desistem.
Para cada vez mais mulheres, independente do que digam e, sobretudo, do que dizem as revistas femininas, o amor não é prioridade.
Primeiro, elas procuram realizar-se profissionalmente e obter uma certa segurança material para, de seguida, tratar da estabilidade amorosa.
É o caso da Béatrice, 57 anos, enfermeira:
 
Não ponho em causa o amor dos homens, mas é um amor que implica que eu trate deles e estou farta disso. Criei meus filhos, tratei dos meus pais doentes enquanto trabalhava, agora gostava de encontrar alguém que tratasse de mim e, como sei que não vou conseguir, prefiro estar sozinha.

Actualmente, quanto mais uma mulher adquire autonomia, mais difícil será voltar a viver a dois depois de um divórcio.
Ela já sabe gerir o tempo, o dinheiro, os passatempos, as amizades e não está disposta a aceitar qualquer tipo de controlo.
Sente um verdadeiro prazer em dominar a situação.
As mulheres que vivem bem nesta solidão são frequentemente perfeccionistas, irrepreensíveis; têm por vezes um ego supercontrolado, que procura atingir a perfeição.

Embora muitas pessoas pensem que o amor as libertará da solidão, a verdade é que é a capacidade de estar só que permite a disponibilidade para o amor.
Quando deixarmos de acreditar que o outro nos vai salvar, quando deixamos de esperar que ele ponha fim às nossas angústias, podem surgir novos laços. "

Marie- France Hirigoyen 
in, As Novas Solidões - Na Era da Comunicação Estamos Todos Mais Sós 

Sem comentários:

Enviar um comentário