quarta-feira, 21 de maio de 2014

Striptease de vida...


"Chegou ao apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava a fazer. Seria a sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos mas já não podia voltar mais atrás. Tocou à campainha, e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para a abrir.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar-se, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares foi - Quero que me oiças, simplesmente.
Então ela começou a despir-se como nunca o havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: Eu tenho feito de conta que não me interessas muito, mas não é verdade. Tu és a pessoa mais especial que já conheci. Não por seres bonito ou por pensares como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso te dizer o que sinto.

Então ela desfez-se da arrogância: Nem sei com que pernas cheguei até à tua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que tu saibas que cada música que toca é contigo que a ouço, cada palavra que leio é contigo que a reparto, cada deslumbramento que tenho é contigo que o sinto. Tu estás entranhado no que eu sou, viraste parte da minha história.

Era o pudor sendo desabotoado: Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carícias em mim mesma tendo-te no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar meias, é na tua companhia que estou.

Retirava o medo: Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está a aprender a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Eu encontrei.

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua.
Eu gostaria de viver contigo, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixar-te saber que és amado e deixar-te pensar a esse respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por ti, avisa-me que eu volto, e a gente recomeça de onde parou. Paramos aqui.

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca."

Martha Medeiros

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