terça-feira, 6 de maio de 2014

......criar...ser dual

Artista plástico londrino, Ron-Mueck


“Todo ser criador é uma dualidade ou uma síntese de qualidades paradoxais.

Por um lado ele é uma personalidade humana, e por outro, um processo criador, impessoal. Enquanto homem, pode ser saudável ou doentio; sua psicologia pessoal pode e deve ser explicada de modo pessoal. Mas enquanto artista, ele não poderá ser compreendido a não ser a partir do seu acto criativo.
(...)
Enquanto pessoa, tem seus humores, caprichos e metas egoístas; mas enquanto artista ele é, no mais alto sentido “homem”, e homem colectivo, portador e plasmador da alma inconsciente e activa da humanidade. É esse o seu ofício, cuja exigência às vezes predomina a ponto de pedir-lhe o sacrifício da felicidade humana e de tudo aquilo que torna valiosa a vida do homem comum.
(...)
Por um lado, o homem comum, com suas exigências legítimas de felicidade, satisfação e segurança vital e, por outro, a paixão criadora e intransigente, que acaba pondo por terra todos os desejos pessoais. Por isso o destino pessoal de tantos artistas é na maior parte das vezes tão insatisfatório e mesmo trágico e isto, não devido a um sombrio desígnio da sorte, mas sim a uma inferioridade ou a uma faculdade deficiente de adaptação da sua personalidade humana. São raros os homens criadores que não pagam caro a centelha divina de sua capacidade genial.


In, O Espírito na Arte e na Ciência 
C.G. JUNG


"Enquanto artista, ele não poderá ser compreendido a não ser a partir do seu acto criativo.
Enquanto participante em algo que o ultrapassa, ele, na sua individuação estética, partilha de uma legitimidade que vem do fundo dos tempos.
Um resquício de deuses politeístas, de um mundo mágico.
Dessa forma, numa sociedade monoteísta e patriarcal, a sensação estética tem uma dimensão política ampla, é um acto de resistência que faz entrar os homens em conexão com o seu lado feminino."

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