Acreditámos que o poço era inexorável,
que essa água haveria de nos dessedentar sempre.
Afinal, éramos incapazes de ver, presos
a uma cegueira armadilhada.
Tudo era repetição, mas repetição para lá do tempo
que nos fora dado viver. De resto, poucas coisas
iriam ser repetidas ainda no tempo que era nosso.
Duas vezes a memória de dedos que se convertem
à espessura da água. Uma vez repetida a lição
do vazio no desmedido território junto à sombra abandonada.
Uma vez repetida a abrasiva velocidade de um deserto.
Somos ilusão e carne, e a violência
do outro lado da fronteira imagina-nos,
e sem assentimento, nós vamos.
Luís Quintais
in, Riscava a palavra dor no quadro negro
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