“A diferença entre nós e uma rocha é que o comportamento humano, contrariamente ao da rocha, está profundamente enraizado a um nível mecânico quântico, desde o ADN molecular até cada uma das células do cérebro”John Hagelin
Uma das aplicações mais interessantes da quântica, é olhar para alguns daqueles aspectos intangíveis das nossas vidas: consciência, livre arbítrio, intenção, experiência, e…o cérebro.
- Será a consciência meramente um produto do cérebro, um epifenómeno, ou uma propriedade emergente da actividade bioeléctrica das nossas cabeças?
- Será algo que surge quando neurónios suficientes disparam ao mesmo tempo, produzindo um nível suficiente de complexidade computacional?
- Se sim, será o cérebro apenas um computador biológico?
- Quão diferentes somos das máquinas?
- Poderia existir inteligência artificial que igualasse ou ultrapassasse a inteligência humana?
- Seriam tais máquinas conscientes?
- Poderiam aprender?
- Teriam livre arbítrio?
Ou será a consciência um componente fundamental do universo, independente do cérebro, que pode ser sentida fora do corpo, tal como está documentado nas milhares de experiências fora-do-corpo e de quase-morte?
Nesses casos, o corpo de uma pessoa pára e deixa de funcionar temporariamente, e no entanto, a sua consciência continua a manter a experiência acordada.
A resposta a esta questão são de três tipos:
Materialismo:
A Matéria está em primeiro lugar; a consciência, o que quer que seja, é secundária. A consciência é apenas um efeito da actividade do cérebro. Não existe a consciência propriamente dita; não tem uma realidade própria é meramente um produto da nossa biologia, das redes de neurónios e das interacções electroquímicas.
Dualismo:
A consciência e a matéria são duas realidades que existem. Contudo, são tão diferentes, ( uma sólida e tangível, e a outra abstrata e intangível) que operam em reinos completamente distintos e não relacionados. Descartes, na década de 1600, dividiu o mundo em res cogitan e res extensa – o reino do espírito e do pensamento ( cogitans) e o reino da matéria e das coisas ( res extensa). O mundo material, incluindo minerais, plantas animais, e seres humanos, é feito de máquinas , governadas pelas leis absolutas da causalidade. Não pode haver acção recíproca entre o reino abstracto do pensamento puro que vagueia livremente e o reino denso e localizado da matéria: são duas substâncias completamente diferentes.
Idealismo:
A consciência é uma realidade fundamental. Tudo é uma expressão da consciência. Viva, fluida e perpetuamente auto-renovável, auto-exprime-se num continuum de níveis ou camadas, desde a mais suave consciência abstracta pura, ao longo de todos os níveis mais substanciais, que são as funções de onda quânticas e partículas, fotões, átomos, moléculas, células, etc., até à mais sólida matéria. Neste continuum, tudo está ligado e relacionado; é tudo a mesma coisa, manifestando diferentes frequências, níveis vibratórios ou densidades.
Tanto no primeiro como no segundo caso, a consciência não tem identidade ou dignidade, ou é completamente incapaz de interagir com o mundo material.
Na terceira visão, o Idealismo, dissolve-se o problema do relacionamento entre corpo e consciência. Estão à partida relacionados e ligados: de facto, são dois aspectos da mesma coisa. Esta estrutura, embora considerada extrema por muitos, não só é consistente como é aprovada por vários físicos. E a consciência bem podia ser um monismo neutro do matemático e filósofo Bertrand Russel, segundo o qual uma entidade comum subjacente dá origem às qualidades tanto físicas como mentais.
- Mas quais são os mecanismos pelos quais a consciência perde a sua abstracção pura e se torna pensamento, percepção e sentimento, e surge como actividade eléctrica ou química no cérebro?
Eis algumas visões que tentam explicar como funciona:
VISÃO DE STUART HAMEROFF DO CÉREBRO QUÂNTICO
Algumas das questões que Hameroff faz é:
- “Como é que a matéria viva produz emoções, sentimentos e pensamentos subjectivos?”
- “Como podem os nossos cérebros contribuir para as experiências fenomenais, como o cheiro do jasmim, a cor de uma rosa ou a alegria do amor?”
- “Porquê estudar algo que não pode ser medido?”
- “Estará a memória realmente no cérebro?”
É possível explorar activamente a transformação da consciência através da meditação, terapias, químicos psicotrópicos, a análise da inteligência artificial através dos computadores, lendo dados derivados de leituras eléctricas do cérebro (EEG, etc…).
Hameroff, vê o cérebro como um computador magnífico, e defende que a consciência tem qualquer coisa que ver com os mistérios da mecânica quântica.
Existe a possibilidade de as memórias não estarem guardadas no cérebro visto que, se se retirar a parte do cérebro onde aparentemente se localiza a memória, a memória pode persistir. Então, onde está armazenada? Talvez algures a uma escala de Planck, ou naquilo a que alguns chamam de “Registos Akashicos”. O cérebro poderá servir apenas de instrumento para retirar as memórias do Universo. Poderá ser o armazenamento local, o disco local do disco rígido cósmico onde estão armazenadas todas as memórias.
VISÃO DE PENROSE – HAMEROFF DAS REDUÇÕES OBJECTIVAS DA CONSCIÊNCIA
Hameroff entra em contacto com Sir Rogers Penrose, e Penrose propôs que a consciência surge quando superposições de neurónios no cérebro atingem um ponto crítico e entram em colapso espontaneamente. Semelhante ao colapso da função de onda devido à observação, levando a uma série de possibilidades a um valor localizado. A diferença é que neste caso a superposição entra em colapso por iniciativa própria devido aos efeitos quânticos da gravidade.
Segundo Penrose, aquilo a que ele chama de “Reduções Objectivas” são intrínsecas à forma como funciona a consciência. Estas RO convertem possibilidades múltiplas ao nível pré-consciente, inconsciente ou subconsciente de forma a definir percepções ou escolhas ao nível consciente, tal como escolher vários tipos de comida, tudo em superposição, e depois escolher uma delas em colapso ou redução.
Hameroff sugeriu o Mecanismo pelo qual isto teria lugar, e juntamente com Penrose, formularam a sua teoria “RO”.
“Comecei a olhar para estes microtúbulos e para como poderiam processar informação, e a sua estrutura parecia sugerir que eram uma espécie de computador, uma espécie de aparelho computacional. Uma vez que as paredes dos microtúbulos são treliças hexagonais muito interessantes com simetrias matemáticas muito bonitas, pareciam adequados às operações computacionais.”Stuart Hameroff
Estes microtúbulos de que fala Hameroff, são essenciais à forma como se passa este colapso, ou RO. São estruturas ocas tipo palhinhas dentro de cada célula, incluindo os neurónios.
Eles revelam uma capacidade de auto-organização e inteligência extraordinárias. Servem de sistema nervoso e circulatório da célula, transportam materiais e organizam a forma e movimento da célula. Interagem com os seus vizinhos no processamento e comunicação de informação e podem organizar as células vizinhas num todo coerente e unificado.
No caso dos neurónios, os microtúbulos estabelecem e regulam as ligações sinápticas e estão envolvidos na libertação de neurotransmissores.
Estão em todo o lado, e parecem organizar quase tudo.
As alterações estruturais, processamento de informação e comunicação entre os microtúbulos, nos neurónios do cérebro, influenciam directamente a um nível acima, a organização dos neurónios nas redes chamadas Redes Neuronais.
Mas os microtúbulos propriamente ditos são afectados a partir da sua própria estrutura por um fenómeno quântico: as proteínas de que são feitos respondem a sinais de um computador quântico interno que consiste em electrões únicos. Segundo Hameroff, estas forças mecânicas quânticas nas bolsas dentro das proteínas controlam a configuração da forma da proteína. E isso, por sua vez, controla as acções dos neurónios, dos músculos e do nosso comportamento.
Então, a alteração da forma das proteínas é o ponto de amplificação entre o mundo quântico e a nossa influência no mundo clássico através de tudo o que a humanidade faz, bom ou mau.
Hameroff diz ainda que é o colapso espontâneo, RO, destes microtúbulos, mais ou menos quarenta vezes por segundo, que proporciona “um momento de consciência”.A nossa consciência não é contínua, mas sim uma sequência de momentos.A consciência é uma espécie de roda dentada através do Tempo e do Espaço, e essa consciência é uma sequência de momentos agora.
MAS ONDE ACONTECE A CONSCIÊNCIA?
Qual é o ponto de encontro entre o reino do intangível do pensamento e da consciência que constitui a nossa experiência subjectiva interna e a sopa bioquímica cheia de electricidade do nosso cérebro?
Hameroff não diz que a consciência é tudo o que existe, como os idealistas. Nem considera que a consciência causa um colapso e escolhe a realidade de uma variedade de possibilidades.
Hameroff fica no meio.
Considera que a consciência existe no limiar entre os mundos quântico e clássico.
Acredita que existe uma Mente Protoconsciente Universal que nos pode influenciar, e que existe no nível fundamental do Universo, à escala de Planck.
A Escala de Planck, segundo o físico quântico Max Planck, é a menor distância que pode ser definida.É 10 triliões de triliões de vezes mais pequeno do que um átomo de hidrogénio.
Segundo Hameroff, este nível fundamental do Universo é um vasto armazém de valores, e percursor da experiência consciente, pronto a influenciar cada uma das nossas percepções e escolhas conscientes.
Estamos ligados ao Universo, e entrelaçados com todas as outras pessoas através desta omnipresença omnisciente, um mar de sentimentos e subjectividade.
Se formos atentos, e não agirmos por reflexo ou impulso, as nossas escolhas podem ser divinamente guiadas.
A computação quântica do nosso cérebro liga a nossa consciência ao Universo fundamental.
LIVRE ARBÍTRIO
Jeffrey Satinover apresenta um argumento matemático rigoroso que demonstra que a actividade do sistema nervoso e a forma específica como ele implementa os efeitos quânticos, abre absolutamente a porta para o livre arbítrio ser uma possibilidade que não viola os dogmas científicos modernos.
É esse não determinismo do nível quântico da existência, a aleatoriedade e o facto da probabilidade, mais do que a certeza absoluta, comandar a realidade quântica, que nos dá a possibilidade de ter livre arbítrio.
Apenas se a aleatoriedade do nível quântico puder ser relevante ao nível macroscópico é que a escolha e o livre arbítrio podem ser possíveis.
“Ao nível do cérebro, as redes neurais produzem uma inteligência global associada ao cérebro como um todo. Mas quando olhamos para cada neurónio individualmente, o seu interior é uma implantação física diferente do mesmo princípio. E, de facto, por mais que se baixe a escala, tal como as caixas chinesas dentro umas das outras, pode ser demonstrado que cada elemento individual de processamento em dada escala é composto por inúmeros elementos de processamento mais pequenos. É através de uma interacção muito particular de vizinhos para vizinho entre os neurónios que a inteligência global, ao nível do cérebro como um todo, emerge. ”Jeffrey Satinover
Segundo Satinover, o cérebro amplia estes efeitos quânticos e projecta-os para cima para elementos de processamento cada vez maiores, até atingir o nível do cérebro.
Satinover diz que a mecânica quântica permite que o fenómeno intangível da liberdade esteja entretecido na natureza humana. A actuação total do cérebro humano é sustentada pela incerteza quântica.
A uma escala muito grande, desde o córtex às proteínas individuais, o cérebro funciona como um processador paralelo. Estes processos formam uma hierarquia encaixada, um computador paralelo numa escala, que na maior não é mais do que um elemento de processamento.
“Então, se o quisermos ver de forma poética, diríamos que os humanos parecem ter sido desenhados de forma a maximizar a liberdade disponível na sua estrutura material a um grau que imita a criação do próprio Universo.”Jeffrey Satinover
Resumindo,
- Até aqui, concluímos que a experiência da consciência no cérebro surge de um colapso espontâneo da função de onda nos microtúbulos.
- Dentro desta consciência, existe a opção do livre arbítrio, ou escolha, devido à ampliação ascendente da disposição tipo caixas chinesas dos eventos quânticos.
- Baseado no livre arbítrio, mantemos um determinado resultado nos nossos cérebros e tornamos a fazer a pergunta arbitrariamente depressa numa sequência de momentos agora, de forma a afectar as probabilidades do mundo quântico.
in, Afinal O Que Sabemos Nós?
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