terça-feira, 14 de julho de 2020

Citações de Arthur Schopenhauer



Arthur Schopenhauer 
(Danzig, 22 de Fevereiro de 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro de 1860)






Cada vez que respiramos, afastamos a morte que nos ameaça. (...) No final, ela vence, pois desde o nascimento esse é o nosso destino
 e ela brinca um pouco com sua presa antes de comê-la. Mas continuamos vivendo com grande interesse e inquietação pelo maior tempo possível, da mesma forma que sopramos uma bolha de sabão até ficar bem grande, embora tenhamos absoluta certeza de que vai estourar.


Êxtase no ato da cópula. É isso! Essa é a verdadeira essência e cerne de tudo, a meta e a finalidade de toda a existência.


A vida é uma coisa miserável. Decidi passar a vida a pensar nisso.


Talento é quando um atirador atinge um alvo que os outros não conseguem.
Génio é quando um atirador atinge um alvo que os outros não vêem.


Uma vida feliz é impossível. O máximo que se pode ter é uma vida heróica.


A sólida base de nossa visão do mundo e também o grau de sua profundidade são formados na infância. Essa visão é depois elaborada e aperfeiçoada, mas, na essência, não se altera.


Se olharmos a vida em seus pequenos detalhes, tudo parece bem ridículo. É como uma gota d’água vista num microscópio, uma só gota cheia de protozoários. Achamos muita graça como eles se agitam e lutam tanto entre si. Aqui, no curto período da vida humana, essa actividade febril produz um efeito cómico.


A religião tem todas as coisas a seu favor: a revelação feita por Deus aos homens, as profecias, a protecção do governo, das figuras mais respeitáveis e importantes. Mais que isso, o enorme privilégio de poder gravar sua doutrina na mente das pessoas quando elas são crianças e, com isso, as ideias se tornam quase congénitas.


Poderíamos prever que, às vezes, as crianças parecem inocentes prisioneiras, condenadas não à morte, mas à vida, sem ter consciência ainda do que significa essa sentença. Mesmo assim, todo homem deseja chegar à velhice, época em que se pode dizer: "Hoje está mau e cada dia vai piorar até o pior acontecer".


Na infância, o aparelho sexual ainda está inactivo enquanto o cérebro já funciona plenamente; por isso, essa é a época da inocência e da felicidadeo paraíso perdido do qual sentimos falta pelo resto da vida.


A maior sabedoria é ter o presente como objecto maior da vida, pois ele é a única realidade, tudo o mais é imaginação. Mas poderíamos também considerar isso nossa maior maluquice, pois aquilo que existe só por um instante e desaparece como um sonho não merece um esforço sério.


No fim da vida, a maioria dos homens percebe, surpresos, que viveram provisoriamente e que as coisas que largaram como sem graça ou sem interesse eram, justamente, a vida. E assim, traído pela esperança, o homem dança nos braços da morte.


Uma pessoa de raros dons intelectuais, obrigada a fazer um trabalho apenas útil, é como um jarro valioso, com as mais lindas pinturas, usado como pote de cozinha.


Interessante que, além da vida real, o homem sempre tem uma segunda vida abstracta onde, com calma deliberação, o que antes o deixava nervoso e irritado parece frio, sem graça e distante: ele é um mero espectador e observador.


Sei como são as mulheres. Elas encaram o casamento apenas como uma instituição destinada a sustentá-las. Quando o meu pai ficou muito doente, a única pessoa a ficar com ele foi um criado fiel que, com o seu caridoso afecto, ofereceu o carinho necessário. Minha mãe dava festas enquanto meu pai ficava deitado sozinho; minha mãe se divertia enquanto ele sofria muito. Assim é o amor das mulheres!


A maioria dos homens sente atracção por um rosto bonito(...) e a natureza faz com que as mulheres exibam todo o seu brilho (...) causem uma "sensação" (...) mas a mesma natureza esconde os muitos demónios imbuídos nas mulheres, tais como os infinitos gastos que fazem, os cuidados com os filhos, a teimosia, a obstinação, o facto de ficarem velhas e feias em poucos anos, a desilusão, o adultério, as vontades, os caprichos, os ataques histéricos, o diabo a quatro. Por isso, considero o casamento como uma dívida que o homem contrai na juventude e paga na velhice.


As grandes dores fazem com que as menores mal sejam sentidas e, na falta das grandes, até o menor desgosto nos atormenta.


Nada mais consegue assustá-lo ou emocioná-lo. Ele cortou todos os milhares de fios da vontade que nos ligam ao mundo e nos puxam para a frente e para trás (cheios de ansiedade, carência, raiva e medo), num sofrimento constante. Sorri e olha calmamente para trás, para a ilusão do mundo, indiferente como um jogador de xadrez no final de uma partida.


A alegria e despreocupação da nossa juventude deve-se, em parte, ao facto de estarmos a subir a montanha da vida e não vermos a morte que nos aguarda do outro lado.


A filosofia é uma estrada isolada numa grande montanha (...) e quanto mais subimos, mais isolados ficamos. Quem a percorre não deve temer, mas deixar tudo para trás e abrir caminho, confiante, na neve do inverno. (...) ele logo vê o mundo lá em baixo, suas praias e pântanos desaparecem de vista, seus pontos desiguais se aplainam, seus sons estridentes não alcançam mais os ouvidos. E sua redondeza surge para o caminhante, que recebe sempre o ar frio e puro da montanha e desfruta do sol quando tudo lá em baixo está mergulhado na escuridão da noite.


Feliz é o homem que consegue evitar a maioria de seus semelhantes.


O sexo se intromete com o seu lixo e interfere nas negociações dos estadistas e nas pesquisas dos eruditos. Destrói os relacionamentos mais preciosos e tira os escrúpulos dos que antes eram honestos e direitos.


Todos os grandes poetas foram infelizes no casamento e nenhum grande filósofo se casou: Demócrito, Descartes, Platão, Spinoza, Leibniz e Kant. A única excepção foi Sócrates, mas pagou por isso, pois sua esposa era a briguenta Xântipa. (...) a maioria dos homens é atraída pela aparência das mulheres, que esconde os defeitos. Eles se casam quando jovens e pagam caro quando envelhecem, pois suas mulheres ficam histéricas e teimosas.


Depois do amor à vida, o sexo é a maior e mais activa força e ocupa quase todas as vontades e pensamentos da porção mais jovem da humanidade. Ele é a meta final de praticamente todos os esforços humanos. Exerce uma influência desfavorável nos assuntos mais importantes, interrompe a toda hora as ocupações mais sérias e às vezes inquieta por algum tempo as maiores mentes humanas. (...) o sexo é realmente o alvo invisível de toda acção e conduta e surge em toda parte, apesar dos panos que são jogados em cima dele. Motivo de guerra e objecto da paz, (...) fonte inesgotável da razão, chave de todas as insinuações e sentido de todas as pistas misteriosas, de todas as ofertas silenciosas e olhares roubados, é nele que pensam os jovens e, com frequência, os velhos também; no que pensam os impudicos todas as horas e a fantasia recorrente e constante dos pudicos, mesmo contra a vontade deles. Se considerarmos tudo isso, somos levados a perguntar: porquê tanto barulho e confusão? Porquê tanta pressa, tanto tumulto, angústia e empenho? Trata-se apenas de cada João encontrar sua Maria. Por que tal ninharia é tão importante e costuma trazer distúrbio e confusão na vida do homem? "Embora os dois envolvidos ignorem, o verdadeiro fim de toda história de amor é gerar uma criança. "Portanto, o que realmente dirige o homem é um instinto dirigido para o que é melhor para a espécie, embora o homem pense que procura apenas a intensificação do próprio prazer. O homem é possuído pelo espírito da espécie, fica dominado por ele e não se pertence mais, (...) pois busca não o seu interesse, mas o de uma terceira pessoa que ainda não foi concebida


Todos amam o que lhes falta.


Se não conto meu segredo, ele é meu prisioneiro. Se o deixo escapar, sou prisioneiro dele. A árvore do silêncio dá os frutos da paz.


A primeira regra para não ser um brinquedo nas mãos de qualquer velhaco, nem ridicularizado por qualquer imbecil, é manter-se reservado e distante.


Quando eu tinha trinta anos, estava cansado e aborrecido por ter de considerar iguais a mim pessoas que nada tinham a ver comigo. Como um gato que, quando pequeno, brinca com bolinhas de papel porque acha que são vivas e se parecem com ele, assim me sinto em relação aos bípedes.


Num dia frio de inverno, alguns porcos-espinhos juntaram-se para se aquecerem com o calor dos seus corpos. Mas logo viram que estavam a espetar-se uns aos outros e afastaram-se. Ficaram com frio de novo e juntaram-se, ficando entre dois males até descobrirem a distância adequada.
Assim é na sociedade, onde o vazio e a monotonia fazem com que os homens se aproximem, mas seus muitos defeitos, desagradáveis e repelentes, fazem com que se afastem.


Quem tem muito calor interno prefere manter-se afastado da sociedade para não dar nem receber problemas e aborrecimentos.


Quase todo o contacto com os homens é uma contaminação, uma violação. Chegamos a um mundo habitado por uma classe de criaturas lastimáveis à qual não pertencemos. Devemos estimar e honrar os poucos que são melhores, nascemos para instruir o resto, não para nos associarmos a eles.


Poucas coisas deixam as pessoas tão satisfeitas quanto ouvir algum problema ou constatar alguma fraqueza em ti.


Deveríamos limitar os nossos desejos, controlar as nossas vontades e dominar a nossa raiva, sabendo que só conseguimos o mínimo do que vale a pena ter.


Não há rosa sem espinhos. Mas há muitos espinhos sem rosa.


Para todo o lugar que olhamos, vemos um esforço que representa o cerne de tudo.
E em que consiste o sofrimento? 
É a luta para vencer o obstáculo que fica entre a vontade e a meta. 
O que é felicidade? É atingir a meta.


Trabalho, preocupação, cansaço, problemas é o que enfrentamos quase a vida inteira. 
Mas se todos os desejos fossem satisfeitos de imediato, com o que as pessoas se ocupariam e como passariam o tempo? Suponhamos que a raça humana fosse transferida para Utopia, lugar onde tudo cresce sem precisar ser plantado e os pombos voam assados ao ponto, onde todo homem encontra sua amada na hora e não tem dificuldade em continuar com ela: as pessoas então morreriam de tédio, se enforcariam, se estrangulariam ou se matariam e assim sofreriam mais do que já sofrem por natureza.


Em primeiro lugar, o homem nunca é feliz, porém passa a vida a lutar por algo, a pensar que vai fazê-lo feliz, não consegue, e, quando consegue, desaponta-se: é um náufrago e chega ao porto sem mastros nem cordâmes. Portanto, não se trata de ser feliz ou infeliz, pois a vida não é senão o momento presente, que está sempre a desaparecer e, finalmente, acaba-se.


Somos como cordeiros a brincar no campo, enquanto o carniceiro nos olha e escolhe umdepois outro, pois quando somos jovens não sabemos que desgraça nos reserva o destinoDoença, perseguição, empobrecimento, mutilação, perda da visão, loucura e morte.


De repente, o homem, surpreso, vê-se a existir após centenas e centenas de anos de não existência. Ele passa um período a viver, depois vem outro período igualmente longo em que vai deixar de existir.


A vida pode ser comparada a um bordado que no começo da vida vemos pelo lado direito e, no final, pelo avesso. O avesso não é tão bonito, mas é mais esclarecedor, pois deixa ver como são dados os pontos.


Mesmo sem motivo, sinto sempre uma ansiedade que me faz ver e procurar perigo onde não existe. Isso aumenta infinitamente qualquer aflição e faz com que a ligação com os outros seja muito difícil.


Os escritos e ideias deixados em livro por homens como eu são o meu maior prazer na vida. Sem livros, teria me desesperado há muito tempo.


Visto da juventude, a vida é um longo futuro; a partir da velhice, parece um curto passadoQuando partimos num navio, as coisas na praia vão diminuindo e ficando mais difíceis de distinguir; o mesmo ocorre com todos os factos e actividades do nosso passado.


Quem são os verdadeiros monogâmicos?
Todos nós vivemos por algum tempo na poligamia, e, uma grande maioria, para sempre.


Quem ama sente uma enorme desilusão depois de finalmente chegar ao prazer. E, surpreso, vê que aquilo que tanto desejou traz o mesmo que qualquer outra satisfação sexual, e assim não encontrará muita vantagem em amar.


Devemos encarar com tolerância toda a loucura, fracasso e vício dos outros, sabendo que encaramos apenas as nossas próprias loucuras, fracassos e vícios. Pois eles são os fracassos da humanidade à qual também pertencemos e assim temos os mesmos fracassos em nós.
Não devemos indignar-nos com os outros por esses vícios apenas por não aparecerem em nós naquele momento.


Alguns não conseguem libertar-se dos seus próprios grilhões, mas conseguem libertar os amigos.


O tratamento mais adequado entre dois homens não deveria ser "Senhor, Sir, Monsieur, mas meu companheiro sofredor". Por estranho que pareça, estaria de acordo com os factos, pondo o outro na luz adequada e nos lembrando do que é mais necessário: a tolerância, a paciência e o amor pelo próximo que todos precisam e, portanto, todos se devem.


Ao chegar ao fim da vida, nenhum homem sincero e de posse de suas faculdades vai desejar viver de novo. Preferirá morrer para sempre.


Consigo suportar a ideia de que poucas horas depois de eu morrer, os vermes comerão o meu corpo, mas estremeço ao imaginar professores a criticar a minha filosofia.


Como o nosso começo é diferente do fim! No começo, temos o delírio do desejo e o êxtase do prazer sensual; no fim, a destruição de todos os órgãos e o cheiro do cadáver em decomposição. O caminho, do nascimento à morte, é sempre um declive no bem-estar e na alegria. Infância sonhadora, juventude alegre, vida adulta difícil, velhice frágil e em geral lastimável, a tortura da última doença e, finalmente, a agonia da morte. Não parece que a vida é um tropeço cujas consequências aos poucos ficam mais óbvias?


Deveríamos saudar a morte como um facto feliz e desejado, em vez de, como costuma ser, com medo e tremor. Deveríamos insultar a vida por interromper a nossa agradável não-existência


Sempre quis morrer rápido, pois quem viveu só a vida inteira saberá avaliar melhor esse tema solitário. Em vez de terminar no meio de tolices preparadas para os lastimáveis bípedes humanos, vou terminar feliz, consciente de estar a voltar para o sítio de onde vim (...) e de ter cumprido a minha missão.


Estou cansado, no final da estrada, A fronte exausta mal consegue suportar os louros. Mesmo assim, vejo com alegria o que fiz, Sem me intimidar com a opinião dos outros.



Citações de Arthur Schopenhauer 
in " A Cura de Schopenhauer"





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