domingo, 7 de julho de 2019

PODIA


Laura Makabresku





Podia dizer-te que não me importo
Podia fingir que fugi
Ou que estou morto.
Podia deixar o galho frágil 
onde pousa a minha vida,
abandonar o rotineiro rebuliço
das aves que abalam.

Com a verdade mais pura
A única verdade
A única que dura
Faria a minha despedida
A promessa de mil abraços
E uma palavra sofrida

Que sou eu mais que um pássaro só
que uma folha que no outono desiste
e se desfaz?
Podia dizer-te que volto
E seria breve
Como um poeta escreve
Livre e solto.

Sou azul como as gaivotas ao final da tarde,
branca como o leite que não bebi da ternura
mel como o sumo dos favos que abelhas interromperam

(E tu, minha vida, acreditas
Nas palavras que não digo?
Será o silêncio castigo?
Será em silêncio que gritas?)

Podia dizer-te que são pequenas
As saudades do teu sorrir
Mas seriam palavras apenas
E seria mentir.

Porque metade de mim permanece nas águas que choro,
outra metade partiu na certeza de um sol.


CARLOS CAMPOS e LÍLIA TAVARES
Poema escrito em intertexto



POEMA PUBLICADO AQUI








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