Traz-me um tempo sem mistério.
Um tempo sem mácula e límpido,
comigo sentado na soleira
por entre o zunido dos insetos
e a cantilena dos homens no lagar.
Devolve-me os gestos que julgava perdidos.
Não me fales de viagens!
De cidades onde não vivi,
dos corpos que consumiste
em aventuras mais ou menos frustradas,
quando eu nem miragem era.
Cala o que me desarma,
o que me avoluma o tédio:
a imagem desses bares onde bebias,
nessas noites em que tropeçavas noutros
e eu não passava de uma impossibilidade
a fermentar numa paisagem
antecipadamente derrotada.
Concede-me de novo esse tempo sem mistério,
um tempo cristalino,
um tempo de loucura e inocência,
um tempo de desejos transparentes,
de corpos ardentes e simples
como só as coisas puras conseguem ter.
VICTOR OLIVEIRA MATEUS
in, AQUILO QUE NÃO TEM NOME
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