quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A Mulher não é a Eva






A mulher afirma-se pela fala, tem uma capacidade de verbalização característica, tanto pela positiva, como pela negativa. Como o homem sabe disso, manda-a calar. O falar parece ser, às vezes, uma substituição do pensar, mas não: trata-se da expressão de um pensamento.
Há um pensar que leva a agir, um pensar que leva a falar, um pensar que leva ...ao silêncio. Esse é o pensar profundo que se transforma em acto e obra.
A tagarelice é o pensar que não assentou.

A tradição obrigou a mulher a ficar dentro de uma caixa de vidro na qual era visível, mas não audível. Então ela falou desesperadamente, mas sem qualquer efeito. Quando partiu essa prisão de vidro, a sua voz transformou-se num acto revolucionário
A mulher moderna é o efeito dessa explosão, da saída da clausura que é a casa, a família, a beleza obrigatória. 
Quando toma a palavra, rompe essa teia que a envolvia numa rede de silêncio e de idealização.
A mulher não é a Eva, representativa da origem do mal da humanidade, nem a figura platónica que o petrarquismo elevou a ídolo.


ANA HATHERLY





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