sábado, 24 de outubro de 2020

Anfiteatro






Todas as formas de violência são indesculpáveis,
disse, e as sombras tombaram sobre a mesa.

Assim é indesculpável a mudez em que rostos se fecham.
Um som vinha antecipar o sentido. A história alucina-se,

disse, e algo cedeu nas sombras tombadas.
Eu anotei, e o olhar, o meu, derrapou no vidro

do anfiteatro, procurou a transparência. Mas era inverno,
inverno também ali, inverno sempre, e os plátanos

do outro lado, ali estando, tão indiferentes,
de uma beleza de cinza, um anátema,

uma contemplação rasurada.


LUÍS QUINTAIS






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