sexta-feira, 9 de outubro de 2020

O Dom da Simpatia








Ter o dom da simpatia. 
É das coisas que mais se invejam. 
Tem, como tudo, a sua técnica, mas os efeitos são sempre problemáticos. 

Há o sujeito amável, como o distante, o inteligente como o mediano, o modesto ou o vaidoso, o convincente como o retraído, o irónico ou o sério e assim por diante, com todas as qualidades que se quiserem e o seu contrário. 

Num caso e noutro pode-se ser «simpático» ou «antipático», captarmos os favores dos outros ou a sua repulsa. Não é fácil determinar o que realmente decide uma adesão. 
E se fosse simplesmente o ter-se «personalidade»? 
O assumir-se verticalmente aquilo que se é? 
Isso ao menos imporia uma deferência ou «respeito». 

Lembra-me uma frase de um antigo tragediógrafo latino (Ácio) - que nos odeiem desde que nos temam. Não é evidentemente o caso aqui. 
Mas é qualquer coisa de parecido: que se seja o que se for, desde que se assuma isso com responsabilidade. 

O resto são apenas formas de «simpatia», ou seja, do «sentir-se com». 
E de todas elas, a base delas - ou seja, a admiração. 

Porque se não tem simpatia, se não houver seja o que for de admiração: tem-se apenas tolerância ou piedade.



Vergílio Ferreira
in, Conta-Corrente 3






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