Falar sobre a morte não é o tema preferido da maioria de nós, que, culturalmente, não aprendemos a acolhe-la, a olhá-la de frente, a percebe-la necessária.
Quando transita pelo signo de Escorpião, o Sol vem iluminar a morte e tudo o que esta simboliza, não só a morte física, mas os fins, a destruição, a transformação, o renascimentos, os lutos, os processos de cura que acontecem através dela, o que está oculto do outro lado do véu, os nossos mortos, o que está morto em nós e o que nos mata, a sexualidade e o orgasmo como a pequena morte, a morte do ego, a morte do desejo pessoal e egoico, a vida para além da morte e a morte antes da vida, a ciclicidade tão necessária a que a vida aconteça. Vivemos num mundo dual e, portanto, não pode haver morte sem vida, nem vida sem morte. Tanto é o potencial de cura em Escorpião.
O dom da destruição é ativado e, quando a Lua se enche e é preenchida, iluminada pelo Sol, esta temática engrandece. Síncrono é o facto desta Lua Cheia acontecer no dia do Samhain, quando os véus se tornam finos para que o mundo dos vivos e dos mortos se toquem e o ano velho morra para que outro nasça.
A Lua Cheia acontece hoje e o aspeto ficou exato pelas 14h49 no 8° do Sol em Escorpião e da Lua em Touro.
Este é um eixo de signos fixos, resistentes à mudança, já que é próprio da sua natureza manter e fazer durar, trazer segurança e estabilidade (Touro) , aprofundar e intensificar para levar ao limite e transformar (escorpião). E a resistência aumenta a tensão.
Quando integrados, Touro e Escorpião falam-nos dos processos de cura e transformação de formas antigas de segurança e valor que já não servem, ora porque não suportam a vida, ora porque carecem se Luz e intoxicam, matam aos poucos. Falam-nos da necessidade da ciclicidade para que a vida aconteça, de criação de vazios para que o novo nasça.
A Lua exalta-se em Touro, segura, confortável, sensual, nutridora.
Ao que dá forma é para durar, trazer estabilidade e segurança ao mundo da matéria.
Cheia, a Lua torna-se potencialmente mais consciente porque está iluminada pelo Sol.
Mas, conjunta a Urano fica sujeita a imprevistos, reviravoltas, que a levam aos processos de desapego e renovação que Urano convida a fazer.
A estabilidade encontra-se, neste caso, na renovação, na mudança e no desapego; no abrir mão da segurança exterior, encontrar o ponto imutável dentro de nós e permitir que o resto se liberte do que restringe a liberdade. Liberdade sem responsabilidade não existe. Convém lembrar que Urano e Saturno são ambos os regentes de Aquário.
Urano em Touro conjunto à Lua é o raio de Luz que desce do Céu e irrompe na Terra, abrindo frechas para a Luz entrar. É a ruptura de falsas formas de segurança, a descoberta de um maior potencial de recursos. Frente a frente com a época da destruição, da morte e da regeneração. É preciso aceitar a renovação, a abertura ao novo, deixar a Vida entrar para que a transformação ocorra.
É a época de acordar os mortos, iluminar as dores, lembrar os lutos não feitos, enfrentar as violências, tocar nas feridas e resgatar poderes perdidos, lamber os abandonos, acolher as sombras e encontrar a luz.
Há um enorme potencial de Cura nesta Lua Cheia. Não sem antes destruir, não sem antes haver resistência, não sem antes tentar evitar a destruição, não sem antes ficarmos sem o chão.
Quando limpamos a casa, o lixo vem à tona.
Quando deitamos fora o velho, criamos caos.
Mas lembremo-nos de Nietzesche quando disse que
“é preciso ter o caos dentro de si
para gerar uma estrela dançante”.
Vânia Duarte Silva
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