segunda-feira, 13 de junho de 2016

O Amor É Mais Falado Do Que Vivido




Vivemos num tempo que escorre pelas mãos, 
um tempo líquido em que nada é para persistir.


Não há nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo é transitório. Não há a observação pausada daquilo que experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar, comprar e comparar.

O desejo habita a ansiedade e se perde no consumismo imediato.
A sociedade está marcada pela ansiedade, reina uma inabilidade de experimentar profundamente o que nos chega, o que importa é poder descrever aos demais o que se está fazendo.

Em tempos de Facebook e Twitter não há desagrados, se não gosto de uma declaração ou um pensamento, deleto, desconecto, bloqueio. Perde-se a profundidade das relações; perde-se a conversa que possibilita a harmonia e também o destoar. Nas relações virtuais não existem discussões que terminem em abraços vivos, as discussões são mudas, distantes. As relações começam ou terminam sem contacto algum.
Analisamos o outro por suas fotos e frases de efeito.
Não existe a troca vivida.

Ao mesmo tempo em que experimentamos um isolamento protector, vivemos uma absoluta exposição. Não há o privado, tudo é desvendado: o que se come, o que se compra; o que nos atormenta e o que nos alegra.

O amor é mais falado do que vivido.
Vivemos um tempo de secreta angústia.
Filosoficamente a angústia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca.
Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos.

Estamos todos numa solidão 
e numa multidão ao mesmo tempo.


Zygmunt Bauman


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