sexta-feira, 24 de junho de 2016
............................a monotonia de tudo
Estou num dia em que me pesa, como uma entrada no cárcere, a monotonia de tudo.
A monotonia de tudo não é, porém, senão a monotonia de mim.
Cada rosto, ainda que seja o de quem vimos ontem, é outro hoje, pois que hoje não é ontem.
Cada dia é o dia que é, e nunca houve outro igual no mundo.
Só na nossa alma está a identidade - a identidade sentida, embora falsa, consigo mesma - pela qual tudo se assemelha e se simplifica.
O mundo é coisas destacadas e arestas diferentes; mas, se somos míopes, é uma névoa insuficiente e contínua.
Fernando Pessoa
in, Livro do Desassossego
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