segunda-feira, 21 de setembro de 2015
Caro Amigo Racista
Caro Amigo Racista,
O problema és tu, não sou eu. O problema é seres racista, não é sermos amigos. Mas, na verdade, isso torna a nossa amizade um problema. Não te vou ensinar nada porque não tenho essa arrogância e muitas vezes estou errado, mas custa-me ver-te, ler-te, saber-te tão cheio de ódio e de certezas contra os refugiados. E provocas-me mau estar.
Outros amigos meus – que não têm amigos racistas – acham que eu não me devo preocupar com o que dizes contra pessoas que estão a morrer no fundo mediterrâneo, que estão a morrer a tentar atravessar fronteiras, que deixaram o que tinham para trás e transformaram-se em fantasmas sem pátria. Alguns dos meus amigos – que felizmente não são racistas – dizem que é perfeitamente normal que tu tenhas medo. Porque acham que tu não és má pessoa, apenas és mal-informado. E que eu não devo dar valor aos teus comentários.
Eu também acho que é normal teres medo – eu também tenho – porque o ser humano tem um potencial para o mal inesgotável. Mas o medo é como um tumor. O medo é como o cancro. Cresce, se não for estancado, mata se não soubermos lutar contra ele. E os teus comentários têm o valor de transportar esse medo para mais pessoas. De construir muros e cercas e divisões. Podia deixar-te a falar sozinho, mas o problema é que cada dia que passa estás mais acompanhado. E os teus amigos racistas e os meus amigos não racistas que não dão valor ao que é dito, tornam o ruído de uns e o silêncio de outros, uma sinfonia hedionda de negação aos mais básicos Direitos de um Ser Humano.
Porque tens informação manipulada por quem te quer racista. Mesmo quando não tens noção de que estás a ser racista. Porque, na verdade até nem serás má pessoa, mas quem é má pessoa serve-se de ti, como “a voz do cidadão normal”, para fazer passar a sua mensagem de ódio. E a voz do cidadão normal transforma-se na Voz do Dono.
Há racistas que ficam em cima da mesa, com o seu banquete, que não querem que mais ninguém apareça porque não querem partilhar as suas refeições. E depois há racistas que ficam debaixo da mesa, alimentados pelas migalhas que caem. Uns são o poder, os outros são o instrumento. Os primeiros pensam, os segundos obedecem a quem os manda odiar e nem sequer se suja a fazê-lo. Porque o receio de perder as migalhas leva à maldade.
Hoje és “patriota”, “português”, “cristão”. Pensas nos sem-abrigo. Nos desempregados. Porque são algo que te dá jeito para manteres o ataque à diferença. Porque, às vezes, tu não te medes por aquilo que és mas pela medida dos inimigos que tens. E se ontem os sem-abrigo eram algo que te incomodava, agora tens um perigo maior. Porque a ignorância leva ao medo que transforma todos os árabes em terroristas como quem te ensinava há uns tempos a pensar e te levava a crer que todos os homossexuais eram pedófilos.
Nem todos os alemães eram nazis, mas quem fechou os olhos e acreditou que os judeus iam para campos de trabalho, hoje acreditaria que os refugiados estão a ser colocados na Europa pelo Estado Islâmico. Porque às vezes é melhor escolher o caminho do conformismo. Ontem eram os pretos, os homossexuais, os que não rezavam como tu. Mas isso está fora de moda hoje. Hoje são os tipos que te impedem de ajudar os sem-abrigo, os que D. Afonso Henriques expulsou a muito custo, todos os outros que são dignos da atenção que nunca lhes deste antes porque eram mais pobres do que tu mas “menos escuros que os monhés que aí vêm”.
Caro ex-amigo racista, às vezes é preciso dizer adeus. Acho que devemos ver outras pessoas e eu acho que, mesmo com o teu direito à opinião no qual te escudas para vomitar imbecilidades, eu não te quero ver mais. Com o teu ódio, medo, ignorância e com o facto de seres perigoso como um terrorista e nem sequer teres noção disso.
Ricardo Salazar
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