segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Cronica de Ricardo Kelmer
Mulheres gostam de fazer mistério.
Ela não, ela é o mistério.
Por uma razão simples: a mulher selvagem sabe que a vida é uma coisa assombrosa e perfeita e viver é o mais sagrado dos rituais.
Ela sente as estações e se movimenta com os ventos, rindo da chuva e chorando com os rios que morrem.
Colecciona pedrinhas, fala com plantas e de uma hora para outra quer ficar só, não insista.
Não, ela não é uma esotérica deslumbrada mas vive se deslumbrando: com as heroínas dos filmes,ou um presente inesperado…
Ela se apaixona, sonha acordada e tem insónia por amor.
As injustiças do mundo a angustiam mas ela respira fundo e renova sua fé na humanidade.
Luta todos os dias por seus sonhos, adormece em meio a perguntas sem respostas e desperta com o sussurro das manhãs em seu ouvido, mais um dia perfeito para celebrar o imenso mistério de estar vivo.
Ela equilibra em si cultura e natureza, movendo-se bela e poética entre os dois extremos da humana condição.
Ela é rara, sim, mas não é uma aberração, um desvio evolutivo.
Pelo contrário: ela é a mais arquetípica e genuína expressão da feminilidade, a eterna celebração do sagrado feminino.
Ela está aí nas ruas, todos os dias.
A mulher selvagem ainda sobrevive em todas as mulheres mas a maioria tem medo e a mantém enjaulada.
Ela é o que todas as mulheres são, sempre foram, mas a grande maioria esqueceu.
Felizmente algumas lembraram.
Foram incompreendidas, sim, mas lamberam suas feridas e encontraram o caminho de volta à sua própria natureza.
Esta crónica é uma homenagem a ela, a mulher selvagem, o tipo que fascina os homens que não têm medo do feminino.
Eles ficam um pouco nervosos, é verdade, quando de repente se vêem frente a frente com um espécime desses.
Por isso é que às vezes sobem correndo na primeira árvore.
Mas é normal.
Depois eles descem, se aproximam desconfiados, trocam os cheiros e aí…
Bem, aí a Natureza sabe o que faz.
"Cronica de Ricardo Kelmer"
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