terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Somos todos imortais
Somos todos imortais.
Teoricamente imortais, claro.
Hipocritamente imortais.
Porque nunca consideramos a morte como uma possibilidade cotidiana, feito perder a hora no trabalho ou cortar-se fazendo a barba, por exemplo.
Na nossa cabeça, a morte não acontece como pode acontecer de eu discar um número telefônico e, ao invés de alguém atender, dar sinal de ocupado.
A morte, fantasticamente, deveria ser precedida de certo ‘clima’, certa ‘preparação’.
Certa ‘grandeza’.
Deve ser por isso que fico (ficamos todos, acho) tão abalado quando, sem nenhuma preparação, ela acontece de repente.
E então o espanto e o desamparo, a incompreensão também, invadem a suposta ordem inabalável do arrumado (e por isso mesmo ‘eterno’) cotidiano.
A morte de alguém conhecido e/ou amado estupra essa precária arrumação, essa falsa eternidade.
A morte e o amor.
Porque o amor, como a morte, também existe – e da mesma forma, dissimulada.
Por trás, inaparente.
Mas tão poderoso que, da mesma forma que a morte – pois o amor também é uma espécie de morte (a morte da solidão, a morte do ego trancado, indivisível, furiosa e egoisticamente incomunicável) – nos desarma.
O acontecer do amor e da morte desmascaram nossa patética fragilidade.
| Caio Fernando Abreu |
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário