sábado, 13 de julho de 2019

Pecado Original





Sim, Mãe! sim, quanta vez te vi chorar..., 
Sem desistir de te fazer sofrer! 
Gozava então nem sei que atroz prazer 
De te arranhar no peito... e me arranhar. 

Mas quis lutar comigo, Mãe! lutar 
Contra esse monstro obscuro do meu ser. 
Que sonho, Mãe!: ter-me eu em meu poder, 
Talhar-me bom, feliz, simples, vulgar... 

Mãe! com que força eu vi que era impotente! 
... Porque de bem mais longe e bem mais fundo 
A culpa do meu ser a nós dois veio. 

Perdoemos um ao outro, humildemente: 
Eu, Mãe! — ter-me o teu seio dado ao mundo; 
Tu, — ter-me eu feito vida no teu seio. 


José Régio
in, 'Antologia Poética'




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