quarta-feira, 3 de julho de 2019

O Feitiço de Marraquexe





Marraquexe tem um encanto especial:
Tem o mítico Hotel La Mamounia e o Jardim Majorelle, os meus preferidos na cidade.

O Hotel La Mamounia, o mítico hotel de Marraquexe, é impressionante.
É o hotel onde se hospedam as estrelas de cinema e os grandes magnatas.
Fiquei fascinada com a diversidade dos uniformes dos funcionários do hotel. O director-executivo disse que "Nós chamamos-lhes vêtements d'images. Achamos uniformes muito vulgar." E, de facto, no La Mamounia nada é vulgar.
A forma como os 170 funcionários do hotel estão vestidos ultrapassa em muito a roupa. "Não há sinalética no hotel. O pessoal é ele mesmo a sinalética." Cada traje é pensado em função do lugar dentro do La Mamounia, cada serviço ou departamento tem um, e cada funcionário tem um vêtement d'image diferente para o dia, para a noite, para o Verão, para o Inverno, num total de perto de 800 roupagens.
O La Mamounia esteve fechado três anos, e em 2009 - o tecto pintado por Jacques Majorelle, o artista plástico francês que no início do século XX se instalou em Marraquexe, foi "redescoberto".
"Sabia-se que este tecto pintado existia, mas estava escondido atrás de outro". Agora, no eixo entre a entrada e os jardins, o tecto de Majorelle é novamente o centro. E as empregadas de mesa trajam de amarelo-torrado porque essa é também a cor dominante da pintura de Majorelle. E é a cor dominante no chão, onde começa um longo tapete que acompanha por grande parte do hotel - são "28 mil m2 de tapete, feito exclusivamente para aqui".
A experiência com os vêtements d"images começa logo quando se entra no La Mamounia. Como tudo no hotel, esse momento foi pensado para ser uma experiência. Filme de Hollywood? Conto das Mil e Uma Noites? Numa coreografia que se repete mil vezes ao longo do dia, dois porteiros de esvoaçantes capas brancas e luvas abrem o primeiro conjunto de portas. Logo de seguida, novo conjunto de portas e mais outros dois porteiros, integralmente de branco, a abri-las do interior do hotel.
No átrio, oferecem a bebida tradicional de boas-vindas em Marrocos: leite de amêndoas fresco, com um pouco de açúcar e água de rosas. E também uma tâmara, como se fôssemos viajantes que atravessaram o deserto e encontram finalmente um oásis que os acolhe.
O La Mamounia tem 2264 portas. Podemos viver ali para sempre, guiando-nos pelos vêtements d'image para saber se é dia ou noite, Verão ou Inverno. Viver esquecidos do mundo como no filme italiano "O Jardim dos Finzi-Contini", em que uma família de judeus da alta sociedade vive no seu jardim, a jogar ténis e a receber os amigos, enquanto o mundo lá fora mergulha na II Guerra Mundial.
Também o Mamounia foi refúgio para quem queria esquecer o mundo durante a II Guerra. Winston Churchill, o primeiro-ministro britânico e o mais célebre dos muitos hóspedes célebres do hotel, dizia que este era "o sítio mais belo de todo o mundo". Diz-se que nos anos 1940 esses hóspedes, vindos da Europa e dos Estados Unidos para se abrigarem nos jardins que um dia o rei Sidi Mohammed Ben Abdellah ofereceu ao seu filho Mamoun, traziam as próprias mobílias para se sentirem completamente em casa.
Antes disso, apesar de ser já uma referência em Marrocos, o La Mamounia (construído em 1923 pelos arquitectos Henri Prost e Antoine Marchisio por encomenda da Companhia de Caminho de Ferro) tinha apenas 50 quartos. Em 1946 cresceu para 100 quartos, e depois sofreu remodelações nos anos 1950, em 1986 e por fim em 2006, já com Jacques Garcia que, "recuperou muito do espírito original". Hoje o hotel tem 210 Quartos, 71 Suites e três Riads cada um com três quartos, salões marroquinos e piscina privada.
E tem um fabuloso spa com 2500 m2, onde são usados cinco produtos com a assinatura Mamounia: o ghassoul (argila especial muito utilizada em Marrocos), sabão negro, água de flor de laranjeira, água de rosas e óleo de argão. Também a música foi feita especialmente para ali, tal como o leve perfume que se sente por todo o hotel. "Um cheiro e uma música que só existem aqui." Para que, a cada regresso, tenhamos a sensação, sem sabermos exactamente porquê, de que voltámos a casa.
Nos vários restaurantes que existem lá dentro dá-se importância ao equilíbrio, sobretudo no uso das especiarias, sempre presentes na cozinha marroquina. "As especiarias não vão com toda a cozinha, uma coisa tem que saber a cominhos, outra a alho, outra a gengibre. Não se pode pôr cominhos em tudo, ou o açafrão, ou a pimenta, se não sabe tudo ao mesmo." E esta é uma cozinha de sabores fortes, mas também de subtilezas.
Na alameda rodeada de oliveiras - há 400 com mais de 700 anos nos jardins do Mamounia, 800 laranjeiras, 500 palmeiras e 6000 roseiras brancas - de repente, o silêncio é interrompido por um cântico que se eleva, à vez, de diferentes pontos da cidade. É o chamamento para a oração muçulmana, que parece vir de todos os lados, numa mistura de vozes que sobe ao céu.
Quando termina, o jardim volta a silenciar-se, mas ao longe ouve-se, abafado, o batuque de tambores que vêm da praça Jemaa El Fnaa. Há festa na praça, como todas as noites - há encantadores de serpentes, aguadeiros, charlatões a vender poções mágicas, há restaurantes envoltos em fumo dos grelhadores, vendedores de caracóis e sumos de laranja. Há a vida toda lá fora. Mas, presos por um qualquer encantamento, como os louros filhos dos Finzi-Contini, ficamos ali no jardim do La Mamounia.
Este é sem dúvida o hotel histórico de Marraquexe, mas nos últimos anos a concorrência tem-se tornado cada vez mais forte com investimentos impressionantes nos palácios-hotel da cidade - chefs três estrelas Michelin, decorações orientalistas, villas privadas dentro dos hotéis entre jardins de sonho, lagos e até ilhas.
Mas quem não tiver dinheiro para este luxo pode sempre optar por um Riad.
Como foi o meu caso…

Nas ruas de Marraquexe, perdemos-nos pelos souks, entre montes de folhas de menta, especiarias de todas as cores, roupas, pulseiras, trabalhos em couro, em metal, um almoço de espetadas de diferentes carnes e molhos, muito calor, palácios e jardins frescos, e mais souks - e, ao cair do dia, a multidão a começar a chegar à Jemaa el-Fnaa, e nós a assistirmos enquanto bebemos um sumo de laranja no velhinho Café de France. Jemaa el-Fatal, Esta praça tem feitiço, só pode! É difícil dizer o que vai ali, tanto é em cor e vibração. E começa logo pela manhã com os vendedores de sumo de laranja, de frutos secos e especiarias, os encantadores de serpentes e os aguadeiros, para continuar dia fora num frenesim aparentemente caótico. Em caindo a noite, já se ergueram as tendas dos comes e, na praça, juntam-se contadores de histórias, dançarinos, cuspidores de fogo, tira-dentes, curandeiros, astrólogos e outros charlatães, e tudo o mais que possam imaginar, e estimule o mercadejo, num delírio que avassala e não apetece largar. É então que à praça acorrem os da cidade e das redondezas e mais ainda os turistas, aos magotes, e a noite triunfa em luz, cor, batuques e odores.

Este é o coração vibrante de Marrakech, lugar de sortilégios e encantações. Das mil e uma noites. Património Imaterial da Humanidade, por decisão da Unesco, desde 2001.
Os jardins de Marraquexe têm este efeito. Como no La Mamounia, o mundo deixa de existir. E no meio de duas mil portas não queremos encontrar a que nos leva à saída.

E por falar em jardins, vou falar do meu jardim preferido em Marraquexe, O Jardim Majorelle:
O Jardim Majorelle é um jardim botânico inspirado nos jardins islâmicos situado no centro de Marraquexe, Marrocos, onde também funciona um museu da cultura berbere.
Ocupa cerca de um hectare a noroeste da almedina e alberga cerca de 3 000 espécies botânicas.
O nome deve-se ao seu fundador, o pintor francês Jacques Majorelle (1886–1962), que o criou em 1931. Comprado por Yves Saint Laurent e Pierre Bergéem 1980, atualmente pertence à Fundação Jardim Majorelle, subsidiária da Fundação Pierre Bergé – Yves Saint Laurent. A casa situada no interior está classificado como "Casas dos Ilustres" (Maison des Illustres) pelo Ministério da Cultura francês desde 2011.
Em 1919, o pintor francês Jacques Majorelle, filho do célebre ebanista e designer art nouveau Louis Majorelle, de Nancy, instalou-se na almedina de Marraquexe, durante o Protetorado Francês em Marrocos. Em 1922 comprou um palmeiral a noroeste da almedina, onde manda construir em 1931 a sua vivenda de estilo mourisco e art déco, desenhada pelo arquiteto Paul Sinoir. A arquitetura do edifício, inspirado na obra de Le Corbusier, é de uma modernidade extraordinária. O pintor instalou a sua residência principal no primeiro andar e transforma o rés de chão num imenso atelier para ali pintar as suas enormes telas.
Apaixonado por botânica, Majorelle criou o seu jardim inspirado nos jardins islâmicos, com a luxúria dum jardim tropical, em volta da casa, que alguns descrevem como "um jardim impressionista" ou "uma catedral de formas e de cores". O jardim é estruturado em volta de um tanque central, com diversos ambientes variados, onde centenas de pássaros fazem os seus ninhos. O jardim é uma obra viva em movimento, composta por plantas exóticas e de espécies raras que o pintor trouxe das suas viagens pelo mundo: catos, yuccas, nenúfares, lótus, jasmins, buganvílias, palmeiras, coqueiros, bananeiras, alfarrobeiras, agaves, ciprestes, etc. Há também uma alameda de aloés e duas matas de bambus, nas partes sul e oeste, junto ao muro exterior. É decorado com fontes, lagos, jatos de água, vasos em cerâmica, alamedas, pérgulas, etc.
Em 1937 o artista criou o "azul Majorelle", um azul ultramar/cobalto simultaneamente intenso e claro, com que ele pinta as paredes da sua vivenda, e depois todo o jardim, para fazer um quadro vivo que abre ao público em 1947. Depois de ter sofrido um acidente de automóvel, Majorelle foi viver para Paris, onde morreu em 1962. O jardim ficou ao abandono durante vários anos.

Yves Saint Laurent e Pierre Bergé descobriram o Jardim Majorelle em 1966, durante a primeira estadia em Marraquexe: «fomos seduzidos por aquele oásis onde as cores de Matisse se misturam com as da natureza». Os dois compraram o jardim em 1980, para o salvarem de um projeto de um complexo hoteleiro que previa o seu desaparecimento; seria a terceira aquisição do casal na cidade de Marraquexe. Os novos proprietários decidiram habitar na vivenda do artista, que rebatizaram Villa Oásis, e empreenderam importantes trabalhos de restauração do jardim para «fazerem do Jardim Majorelle o jardim mais belo, aquele que Jacques Majorelle tinha pensado, planeado.» O atelier de pintura foi transformado num museu berbere aberto ao público, no qual está exposta a coleção de arte de Yves Saint Laurent e de Pierre Bergé.
As cinzas de Yves Saint Laurent, morto em junho de 2008 foram dispersadas no roseiral da Villa Oásis e no jardim há um memorial composto por uma coluna romana trazida de Tânger, sobre uma base onde há uma placa com o seu nome. Em novembro de 2010, a princesa Lalla Salma, esposa do rei Maomé VI de Marrocos, inaugurou a exposição "Yves Saint Laurent e Marrocos", ao mesmo tempo que foi dado o nome do criador de moda a uma rua. Em dezembro de 2011 foi inaugurado o "museu berbere" no rés de chão da vivenda, com a presença do ministro da cultura francês, Frédéric Mitterrand, e a casa onde viveu Saint Laurent foi classificada como Maison des Illustres.
O jardim emprega cerca de vinte jardineiros e é um dos locais turísticos mais visitados de Marraquexe e de Marrocos, com mais de 600 000 visitantes anualmente.

Mas, de volta ao livro:
No coração da histórica Medina de Marraquexe, entre os animados souks e bazares, encontra-se um grupo de europeus, desfrutando da tranquilidade de um riad. Ali dão os primeiros passos no conhecimento da inebriante gastronomia marroquina. Entre eles, Nell, uma jovem inglesa que sonha abrir um restaurante na sua Cornualha natal e Amy, uma fotógrafa inglesa que reúne material para editar um livro de cozinha e pretende levar a cabo uma exposição sobre Marrocos na sua galeria de arte, no Dorset. Nell procura dar sentido à sua vida, depois da morte da mãe; Amy procura Glenn, um primo americano, cujo último paradeiro conhecido é algures em Marrocos. E, assim, ambas embarcam numa viagem de descoberta das suas próprias raízes que surpreendentemente se encontram ligadas. Em “O Feitiço de Marraquexe”, os coloridos souks e bazares são descritos por Rosanna Ley com tal vivacidade que provocam uma irresistível vontade de deambular pela histórica Medina de Marraquexe.
Cada capitulo que era escrito pelo Glenn sobre Marrocos, fazia-me pegar no meu álbum de fotografias e viajar novamente para as pequenas vilas, as grandes cidades, as montanhas do Atlas, o deserto do Sahara, as comidas tradicionais, a sua cultura, e para um povo especial que me acolheu de braços abertos sempre que entrava num riad ou mesmo num estabelecimento, mas são esses momentos que com o tempo ficam esquecidos, mas quando lemos um livro assim afinal não estão nada esquecidos.

Nell e a mãe eram muito unidas, mas agora que a mãe morreu Nell sente-se completamente desamparada. A juntar a isso, a relação com o marido Callum está a passar por uma fase menos boa.
Talvez para tentar alegrar a sua esposa, Callum oferece-lhe uma viagem a Marraquexe, juntamente com um curso  de culinária, como prenda de aniversário.

Amy trabalha como fotógrafa numa galeria de arte que, através de um projecto que quer implementar sobre a cultura marroquina, em Dorset, parte para aquele país. O objectivo é também procurar o paradeiro de um tio, desaparecido há mais de 30 anos.
Juntas vão encontrar-se no hotel Riad Lazulli e tornam-se companheiras de viagem e confidentes.

O facto de Nell querer saber mais sobre o passado da mãe, beber mais da cultura que a sua mãe gostava tanto vai fazer com que esta viagem seja uma forma de conhecer ainda mais sobre Marrocos e a mãe. O ambiente, os cheiros das especiarias, a comida, tudo nos remete para o açafrão, para o amarelo, para as cores fortes e garridas.
Por outro lado, há também o desejo por parte de Amy querer saber mais sobre o paradeiro do seu tio, que esteve em Marraquexe há muitos anos. O passado da mãe de Nell e de Glenn, tio de Amy, tem tudo a ver com Marrocos, que será o palco de muitas descobertas.

"Por mais tempo que vivas num lugar, isso não faz dele a tua terra."

Mas, o que mais me fascinou no livro foi uma visita que Amy e Nell fizeram a uma Quinta de Açafrão, onde um Guia Turístico explicou toda a história do Açafrão. A Quinta no livro é em Essaouira ( quer dizer em árabe “a bem desenhada”), também conhecida por Mogador.
Cidade à beira-mar no Atlântico, na costa sudoeste de Marrocos, capital da província homónima, que faz parte da região
Marrakech-Tensift-Al Haouz  é Património Mundial da UNESCO.

O açafrão é a especiaria mais cara do mundo e a marroquina orgulha-se de ser uma das melhores. A produção de açafrão concentra-se maioritariamente na região do Vale de Ourika, a 30 quilómetros de Marraquexe.

Na pequena aldeia de Tnine Ourike há algumas quintas de açafrão que estão abertas ao público. O açafrão é uma planta pequena e muito delicada. Para extrair os pequenos filamentos vermelhos da flor são precisas muitas horas de trabalho meticuloso das muitas mulheres marroquinas que assim encontram ocupação na época da colheita da especiaria.
Para ver campos de flores lilases então temos de visitar a quinta no final de Outubro início de Novembro, altura em que a flor abre e logo depois é colhida. Nessa altura é também interessante observar o trabalho das mulheres na colheita. O trabalho totalmente manual, a pouca quantidade extraída e a sua qualidade superior, fazem do açafrão o tesouro desta região.
Taliouine (com uma população de 5.000 pessoas) continua a capital e o núcleo industrial de açafrão de Marrocos. O rico solo vulcânico da região possui excelente drenagem, o que é importante para a saúde dos bulbos, e o clima.
Taliouine é uma cidade do sudoeste de Marrocos, situada a meio caminho entre Agadir e Ouarzazate, que faz parte da província de Taroudant e da região de Souss-Massa-Draâ, conhecida pelo seu casbá e pelo açafrão de primeira qualidade. A cidade, habitada principalmente por berberes chleuhs, é um ponto de paragem popular na estrada entre Agadir e Ouarzazate, estrada essa que é também a rua principal na qual há muitos restaurantes e cafés. Situa-se nas montanhas do Anti-Atlas, a pouco mais de 1 000 metros de altitude, na encosta de uma montanha com cerca de 1 500 m, e é atravessada pelo uádi (oued, ribeiro) Zagmouzen. A área é caracterizada por montes áridos e rochosos cuja altitude média varia entre 1 200 e 1 400 metros. O vale fértil está coberto de argões e prolonga a planície do Haouz até ao deserto.
O célebre açafrão de Taliouine, que alegadamente é a especiaria mais cara do mundo, é cultivado em zonas um pouco afastadas da cidade, principalmente entre Tagouyamt e Aït es Sine, no planalto de Souktana a uma altitude entre 1 300 e 1 300 m, do maciço de Sirwa.
Mais de 1 500 famílias dedicam-se ao cultivo da planta (Crocus sativus) em cerca de 3 000 parcelas que ocupam pouco mais de 500 ha (750 ha segundo outras fontes). A especiaria é usada em culinária, medicina, cosméticos e como corante e pigmento. Para produzir um quilograma de especiaria são necessários entre 140 e 150 mil flores. 95% do açafrão produzido em Marrocos é proveniente de Taliouine, que na prática é a única área de África onde é cultivada aquela planta. Anualmente são produzidas cerca de 3 200 kg de açafrão, o que corresponde a mais de 450 milhões de flores, o que faz de Marrocos o quarto produtor mundial, a seguir ao Irão, Índia e Grécia. A produção rende cerca de 6,5 milhões de dirhams (575 000 euros, 1 400 000 reais). Cerca de dois terços da produção é exportada. Estima-se que o açafrão dê emprego a mais de 12 000 pessoas.
A Cooperativa Souktana de Açafrão de Taliouine, que produz açafrão certificado pela ECOCERT está aberta ao público e ali é mostrado aos visitantes como o produto é preparado.

Juntamente com o açafrão, cujos campos são rodeados de oliveiras e amendoeiras, na região são cultivadas outras plantas medicinais.
Se existe algum ingrediente que podemos comparar com o diamante, esse certamente é o açafrão, mas não por suas características físicas, e sim pelo seu altíssimo preço. Ingrediente fundamental na Paella espanhola e no Risoto ala Milanese, o açafrão é sinónimo de luxo desde a antiguidade.
O açafrão, que em Marrocos se diz Zafran, é nada menos do que o pistilo da flor Crocus sativus, que possui cor lilás, e mede apenas 20 cm.
O açafrão é extraído dos estigmas de flores de Crocus sativus, uma planta da família das Iridáceas. É utilizado desde a Antiguidade como especiaria, principalmente na culinária do Mediterrâneo — região de onde a variedade é originária — no preparo de risotos, aves, caldos, massas e doces. É um ingrediente essencial à paelha espanhola. É tida como uma das especiarias mais caras do mundo uma vez que, para se obter um quilograma de açafrão seco, são processadas, manualmente, cerca de 150 000 flores, e é preciso cultivar uma área de aproximadamente 2 000m². Quando seca, a flor desprende de seus órgãos um pigmento amarelo e um óleo volátil, tradicionalmente usado como corante de tecidos.
Há séculos é também empregado para fins medicinais. Historicamente foi utilizado no tratamento do câncro e de estados depressivos. Tais aplicações têm sido pesquisadas atualmente. Efeitos promissores e seletivos contra o câncro têm sido observados in vitro e in vivo, mas não ainda em testes clínicos. Efeitos antidepressivos também foram encontrados in vivo e em estudos clínicos preliminares. Há portanto interessantes perspectivas de uso dos extratos de açafrão na fitoterapia racional.
Não deve ser confundido com a cúrcuma, também chamada de açafrão-da-terra, ou açafrão-da-índia que é um pó amarelo proveniente de uma raíz parecida com a do gengibre, mas é de cor laranja.
Seu cultivo é fácil, e o alto preço se justifica pelo enorme trabalho exigido para extrair de flor em flor o pistilo. O processo de obtenção do açafrão consiste em apenas quatro etapas, mas muito trabalhosas: Cultivo, colheita, separação e secagem. Após apanhar as flores, retira-se o pistilo que possui cor vermelha. Em seguida, leva-se o pistilo para uma secagem (maneira encontrada para conservar o açafrão). Depois de feita a secagem, o açafrão original está pronto para ser usado.

O açafrão é e sempre foi a especiaria mais cara e fina existente. 
Cultivado na Ásia desde a antiguidade, foi levado para a Espanha pelos árabes há mais de mil anos, e com o passar do tempo, a Espanha tornou-se a maior produtora de açafrão do mundo, com 70% da produção mundial. É cultivado também na maioria dos países do mediterrâneo, e em outros países como Irão, e Marrocos.
A época ideal para plantar a flor do açafrão, é entre junho e julho, com colheita entre outubro e novembro. Como acontece com a maioria dos ingredientes, as condições climáticas e do solo podem influenciar no sabor do açafrão, e por isso o espanhol é considerado o de melhor qualidade. Névoa e umidade são condições ideias para as flores de açafrão. Os pistilos que normalmente possuem três filamentos são extremamente aromáticos, e sua principal função é dar uma tonalidade amarelada para a comida, além de fornecer um sabor diferenciado.
O preço do açafrão se justifica pelo intenso e minucioso trabalho manual durante o processo, principalmente na etapa de retirar o pistilo. Para 1 kg de açafrão, são necessárias 150 mil flores, tornando o produto ainda mais valorizado. Pelo alto preço e pelo grande trabalho empregado, a quantidade de falsos açafrões existentes é muito grande. Não existe açafrão barato em nenhum lugar, sendo ainda mais caros nos países que não são produtores.
Com o grama em torno de $5, e o kg variando de 3 a 20 mil euros, o açafrão é um ingrediente único e fundamental ao preparo de alguns pratos. Possui um sabor marcante, difícil até mesmo de explicar. O açafrão é resultado de um trabalho delicado, e que necessita de muito volume pelo fato dos pistilos serem muito pequenos e bem leves.
Originalmente cultivado na região do Vale de Ourika, é na pequena aldeia de Tnine Ourike que encontramos algumas quintas de Açafrão, podendo ser apreciadas pelo público em geral.
Açafrão é uma delicada planta que possui uma flor, a qual dela são extraídos seus filamentos vermelhos, para isso é necessário muito cuidado e horas de trabalho. Normalmente esse tipo de trabalho é executado por mulheres marroquinas numa determinada época de colheita. Digamos que a colheita do açafrão agrega muito valor para as mulheres na cultura do Marrocos.
Considerado o ingrediente mais caro da gastronomia, é muito confundido com o açafrão da terra, mas o verdadeiro é uma raridade e quase um tesouro. Para terem uma ideia, um quilo de açafrão precisa de cerca de 150 flores mil flores, cada flor contém apenas 3 filamentos vermelhos de açafrão e são colhidos um kilo diariamente.
Na questão económica, podemos dizer que comprar açafrão é o mesmo que comprar ouro. Um quilo pode chegar ao valor de até 35 mil euros, o mesmo peso de ouro custa 45 mil –  por isso, dizer que o açafrão tem quase o peso do ouro, não é assim tão fora da realidade.
Para quem deseja aproveitar o máximo desse tempero tão exepcional, a dica é dissolve-lo em água para ter alta concentração de sabor e aroma. Ele sempre dá um toque final nos pratos, mas se usado de forma errada pode literalmente amargar tudo. Usar Açafrão em molhos e com acompanhamentos, tornou-se a forma mais popular de consumo. O creme de açafrão com risoto é o que mais se destaca entre os pratos mais pedidos mundo fora.
A pouca quantidade extraída por colheita e a alta qualidade faz o açafrão ser esse tesouro tão amado e idolatrado.

Aqui no livro, a mãe de Nell tinha uma quinta de açafrão na Cornualha no Reino Unido, e fiquei intrigada como o Açafrão foi parar ao Reino Unido, e como os ingleses se tornaram produtores de açafrão. No livro, Glenn explica a Nell como isso aconteceu através dos Fenícios que levaram o Açafrão para lá.
Ele teve a sua origem no Sudoeste da Ásia, depois foi levado para a Ásia Central, e na Europa foi cultivado pela primeira vez na Grécia.
Os árabes chamam-lhe Za’fran.
Em Marrocos dizem Zafran.
No Reino Unido, dizem Saffron.
Na França dizem Safrón.
Na Espanha dizem Safrà.
Na Itália dizem Zafferano.
Na Grécia dizem Krokos.

Antigas lendas gregas contam que audaciosos marinheiros embarcaram em viagens longas e perigosas à remota ilha de Cilícia, onde viajaram para encontrar o que consideravam como o açafrão mais valioso. A lenda helénica mais conhecida do açafrão é a do Croco e da Esmílace: o lindo e jovem Croco vai em busca da ninfa Esmílace, nos bosques próximos a Atenas. Num interlúdio galanteador sobre amor idílico, Esmílace é lisonjeada pelos avanços apaixonados dele, mas logo se cansa de suas intenções. Ele insiste mas ela resiste. Ela enfeitiça Croco e ele transformar-se-ia então num açafrão croco. Seus estigmas alaranjados e radiantes foram criados como um brilho de uma paixão imortal e não correspondida.
Para os antigos mediterrâneos, o açafrão encontrado na cidade costeira siciliana de Solos era de grande valor, particularmente para uso em perfumes e pomadas. Entretanto, Heródoto e Plínio, o Velho classificaram os concorrentes açafrões assírio e babilónio do Crescente Fértil como os melhores para o tratamento gastrointestinal ou renal. O açafrão grego da Caverna de Corício do monte Parnasso também foi importante: a cor do croco de Corício é mencionada na obra Argonautas de Apolónio de Rodes e a fragrância do croco usada nos epigramas de Marcial.

Cleópatra, que viveu no Egito ptolemaico, usava um pouco de açafrão em seus banhos quentes, pois apreciava as suas propriedades cosméticas e de coloração. Ela usava o açafrão antes de se encontrar com homens, acreditando que ele tornaria o ato sexual ainda mais prazeroso. Os curandeiros egípcios usavam o açafrão para tratar todas as variedades de distúrbios gastrointestinais. Para dores estomacais com hemorragia interna, o tratamento egípcio consistia das sementes do açafrão croco misturadas e esmagadas com restos de árvores aager, gordura de gado, coentro e mirra. Essa pomada ou cataplasma era aplicado no corpo. Os médicos acreditavam que isso “expelia o sangue pela boca ou pelo reto, como se fosse um sangue de porco cozido”. Os problemas urinários também eram tratados com uma emulsão à base de óleo feita de flores jovens de açafrão e grãos torrados. Nos homens, isto era usado topicamente. Já as mulheres, ingeriam uma preparação mais complexa.

Na era greco-romana, o açafrão era largamente comercializado pelos fenícios no Mediterrâneo. Seus clientes iam desde fabricantes de perfumes em Roseta, no Egito, até médicos em Gaza e na cidade vizinha de Rodes, que por sua vez usavam bolsas de açafrão a fim de camuflar a presença de conterrâneos mal cheirosos durante as idas ao teatro. Para os gregos, o açafrão era diretamente associado a cortesãs e conselheiras conhecidas como heteras. Grandes tinturarias de Sídon e Tiro usavam o açafrão em banhos como ingrediente substituto. Ali, vestes reais eram mergulhadas três vezes em tinturas roxas. Para as vestes de pretendentes reais e plebeus, os últimos mergulhos eram feitos com açafrão, que criava uma tonalidade roxa menos forte.
Os antigos gregos e romanos valorizavam o açafrão como perfume ou desodorante e o espalhavam em lugares públicos, como saguões reais, cortes e anfiteatros. Como exemplo, quando Nero chegou a Roma, as pessoas espalharam açafrão pelas ruas. Além disto, os romanos ricos também usavam o açafrão em banhos diários. O açafrão era usado como rímel, em vinhos, em saguões e ruas como pot-pourri e oferecido a divindades. Colonizadores romanos levaram o açafrão quando povoaram a Gália romana ao Sul, onde foi amplamente cultivado até a invasão bárbara da Itália em 271. Teorias opostas alegam que o açafrão somente retornou à Gália com os mouros do século VIII ou com o Papado de Avinhão no século XIV.

O cultivo do açafrão na Europa sofreu uma redução acentuada após a Queda do Império Romano do Ocidente. Como consequência, durante muitos séculos, o cultivo do açafrão era raro ou praticamente inexistente em toda a Europa. Isto mudou quando a civilização islâmica se espalhou pelo Norte da África, fixando-se no processo na Península Ibérica, bem como por algumas regiões da França e no Sul da Itália. Há uma teoria que afirma que os árabes trouxeram o açafrão para a região de Poitiers após perderem a Batalha de Tours para Carlos Martel em 732. Dois séculos após a conquista da Espanha, os árabes plantaram açafrão nas regiões das províncias de Andaluzia, Castela, Mancha e Valência.
Na França, é provável que o cultivo de açafrão tenha iniciado durante o século XIII. Possivelmente, o crocus sativus se popularizou na Espanha e no Oriente Médio com os peregrinos, comerciantes e cavaleiros. Há registos de que foi usado pela primeira vez no sudoeste do Reino Unido por volta do ano de 1250. É provável que reis e religiosos tenham tentado cultivar o crocus sativus naquela época: o açafrão era raro, caro e muito requisitado. O crocus sativus podia ser cultivado em regiões de latitude na França. Até o século XIV, o uso do açafrão para apimentar e colorir a comida surgiu em livros de receitas, como "Viandier", escrito pelo cozinheiro Guilherme Tirel dos reis Carlos V(r. 1364–1380) e Carlos VI (r. 1380–1422). E, por volta do século XV, o cultivo local do açafrão passou a ser feito com os impostos cobrados pelo poder religioso, que revelam o quão importante foram as culturas de açafrão. Por exemplo, em 1478, o imposto cobrado pelo bispo de Albi referente ao açafrão atingiu 1/12 da produção de açafrão.

A procura por açafrão aumentou na época em que a Peste Negra atingiu a Europa, entre 1347 e 1350. Dentre os que mais procuravam pela iguaria, estavam os infectados pela peste para utilizar o açafrão para fins medicinais. Mesmo assim, muitos dos agricultores que ainda o cultivavam acabaram por morrer. Grandes quantidades de açafrão não-europeu foram encontradas - portanto, houve importação. Os melhores fios de açafrão muçulmano estavam indisponíveis para os europeus por causa das hostilidades geradas pelas Cruzadas. Assim, Rodes e outros lugares eram os principais fornecedores para a Europa Central e do Norte.
O açafrão foi um dos pontos de hostilidade entre o declínio da aristocracia rural e arrivista e os comerciantes cada vez mais ricos. A "Guerra do Açafrão", que durou 14 semanas, ganhou força quando 363 kg de açafrão foram roubado por nobres. A carga, que estava a caminho da cidade de Basileia, teria, no mercado de hoje, preços avaliados em mais de 500 000 dólares. Essa remessa finalmente voltou, mas o comércio do século XIII foi alvo de pirataria em massa. Os ladrões que operavam nas águas do Mediterrâneo muitas vezes ignoravam as joalherias e prefeririam roubar o açafrão comercializado em Génova e no Vietname, cujo destino era a Europa. Preocupada por tal aborrecimento, a Basileia plantou seus próprios bulbos. Vários anos de colheitas grandes e prósperas tornaram a Basileia uma cidade extremamente próspera comparada a outras cidades europeias. Os cidadãos procuraram proteger o seu estatuto proibindo o transporte de bulbos fora da cidade. Da mesma forma, guardas foram designados a impedir que os ladrões colhessem flores ou desenterrassem bulbos. No entanto, dez anos depois, a colheita de açafrão diminuiu e a cidade de Basel abandonou o hábito da colheita.

A região de Nurembergue tornou-se o centro de comercialização de açafrão na Europa. Os comerciantes de Veneza adotaram as regras de comercialização do Mediterrâneo, negociando produtos vindos da Sicília, França, Espanha, Áustria, Creta e Grécia, além do Império Otomano. Produtos falsificados também circulavam entre as mercadorias: embebidos em mel, misturados com pétalas de cravo-de-defunto ou mantidos em porões húmidos - tudo para agregar um volume rápido e barato. As autoridades de Nurembergue, irritadas, aprovaram o código Safranschou para regularizar o comércio de açafrão. Assim, falsificadores foram condenados, presos e executados por imolação.

A Inglaterra foi o próximo país a se tornar um grande produtor. Uma teoria afirma que a colheita se disseminou pelas regiões costeiras do Leste da Inglaterra no século XIV, durante o reinado de Eduardo III (r. 1327–1377). Nos anos seguintes, o açafrão passou a ser cultivado em toda a Inglaterra. Norfolk, Suffolk e o Sul do Condado de Cambridge foram especialmente acometidos com bulbos. Durante os séculos XVI e XVII, Rowland Parker apresentou seu cultivo na aldeia de Foxton como "feito por pessoas que detém uma pequena quantidade de terra". Um hectare de açafrão plantado poderia render uma colheita que possibilitaria "uma cultura muito rentável, uma vez que havia abundância de mão-de-obra não remunerada disponível; o trabalho não remunerado era uma das características básicas da agricultura e assim continuaria por mais dois séculos.”
Até então, o cultivo de açafrão alastrou-se por todo o Reino Unido. O açafrão desenvolveu-se principalmente em Albi, Angoumois, Gascónia,Gatinais, Normandia, Périgord, Poitou, Provença e Quercy. O seu declínio misterioso começou no século XVIII, possivelmente devido a doenças fúngicas pandémicas destruindo bulbos e safras, a invernos particularmente frios e ao mercado de concorrentes de países do Mediterrâneo.
Na Inglaterra, o cultivo continuou somente nos solos bem drenados do norte da zona rural de Essex. A cidade de Essex chamada Saffron Walden tem o seu nome como um centro de cultura e comércio do açafrão. O nome original era Cheppinge Walden, mas foi modificado no intuito de intensificar a importância da cultura para o povo da cidade - nesta cidade, por exemplo, ainda se encontram flores de açafrão. Visto que a Inglaterra surgiu a partir da Idade Média, sentimentos puritanos ascendentes e novas conquistas ameaçaram o cultivo e o uso do açafrão pelos ingleses. Partidários puritanos favoreceram alimentos cada vez mais austeros, sem adornos e sem temperos. O açafrão também foi uma cultura de trabalho intensivo, que se tornou uma desvantagem crescente à medida que os salários e os custos de oportunidade do tempo aumentaram. E, então, um afluxo de especiarias mais exóticas do leste devido ao renascido comércio de especiarias, significava que os ingleses, bem como outros europeus, tinham vários temperos diferentes e mais baratos.
Essa tendência foi registada pelo reitor de Manchester, o reverendo William Herbert. Ele coletou amostras e informações a respeito de diversos aspectos sobre o açafrão. Ele se preocupava com o declínio no cultivo de açafrão ao longo do século XVII e o início da Revolução Industrial. A introdução de milho e batatas, facilmente cultiváveis, não ajudou. Além disso, a elite tradicionalmente composta pelo mercado de açafrão, estava agora cada vez mais interessada nos interessantes produtos recém-chegados, como chocolate, café, chá, e baunilha. O cultivo significativo de açafrão prevaleceu apenas no sul da França, na Itália e na Espanha, onde a colheita de açafrão era culturalmente primitiva.








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