segunda-feira, 19 de março de 2018

Green God





Trazia consigo a graça 
das fontes quando anoitece. 
Era um corpo como um rio 
em sereno desafio 
com as margens quando desce. 

Andava como quem passa 
sem ter tempo de parar. 
Ervas nasciam dos passos, 
cresciam troncos dos braços 
quando os erguia no ar. 

Sorria como quem dança. 
E desfolhava ao dançar 
o corpo, que lhe tremia 
num ritmo que ele sabia 
que os deuses devem usar. 

E seguia o seu caminho, 
porque era um deus que passava. 
Alheio a tudo o que via, 
enleado na melodia 
duma flauta que tocava. 


Eugénio de Andrade 
in, "Poesia" 








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