sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Ouve, Meu Anjo





Ouve, meu anjo: 
Se eu beijasse a tua pele? 
Se eu beijasse a tua boca 
Onde a saliva é um mel?... 

Quis afastar-se mostrando 
Um sorriso desdenhoso; 
Mas ai! 
- A carne do assassino 
É como a do virtuoso. 

N'uma atitude elegante, 
Misteriosa, gentil, 
Deu-me o seu corpo doirado 
Que eu beijei quase febril. 

Na vidraça da janela, 
A chuva, leve, tinia... 

Ele apertou-me, cerrando 
Os olhos para sonhar... 
E eu, lentamente, morria 
Como um perfume no ar! 



António Botto
in, "Canções" 




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