sábado, 15 de fevereiro de 2014

JOUMANA HADDAD


(...)
"Sou realmente contra religião, e contra a doutrinação, a ideologia e o inevitável integralismo que ela carrega.
Meu Deus, é a minha liberdade.
Meu Deus, sou eu mesma e as pessoas que amo.
Eu sou muito espiritual, mas muito anti-religiosa, especialmente desde que eu me convenci que as três grandes religiões monoteístas não têm feito nada além de dividir as pessoas, e também são muito patriarcais e condescendentes com as mulheres(...)
Acredite em você, celebre sua força como mulher.
Nunca diga: "Esse mundo é meu também, entregue-me".
Em vez disso, "Esse mundo é meu, eu vou tomá-lo"(...)

"Eu não sou nem a rebelde nem a égua fácil.
Antes o desvanecer do pesar último.

Eu Lilith o anjo devasso. Primeira fuga de Adão e corrompidora de Satanás. O imaginário do sexo reprimido e o seu mais alto grito. Tímida pois sou a ninfa do vulcão, ciumenta pela doce obsessão do vício. O primeiro paraíso não pôde suportar-me. E caçaram-me para que eu semeie a discórdia na terra, para que governe nos leitos os assuntos dos meus sujeitos.

Sorte dos conhecedores e deusa das duas noites. União do sono e do despertar. Eu, o feto-poetisa, ao perder-me ganhei a vida. Regresso do meu exílio para ser a esposa dos sete dias e as cinzas do amanhã.

Eu sou a leoa sedutora e volto para cobrir as submissas de vergonha e para reinar sobre a terra. Venho para curar a costela de Adão e liberar cada homem da sua Eva.

Eu sou Lilith, a mulher-floresta. Não vivi uma espera desejável, mas sofri os leões e as espécies puras de monstros. Fecundo todas as minhas costas para construir a história. Agrego as vozes nas minhas entranhas para que o número de escravos esteja completo. Como o meu próprio corpo para que me não tratem como faminta e bebo a minha água para nunca sofrer a sede. As minhas tranças são longas no inverno, e as minhas malas não têm tecto. Nada me satisfaz, nem me sacia, e eis que regresso para ser a rainha dos perdidos no mundo.

Sou a guardiã do bem e do encontro dos opostos. Os beijos no meu corpo são as feridas de quem tentou. Da flauta das duas coxas sobe o meu canto, e do meu canto a maldição espalha-se em água sobre a terra.

Sou Lilith, a leoa sedutora. Mão de cada servidor, janela de cada virgem. Anjo da queda e consciência do sono leve. Filha de Dalila, Maria Madalena e das sete fadas. Nenhum antídoto para a minha condenação. Da minha luxúria, erguem-se as montanhas e abrem-se os rios. Venho de novo para furar com as minhas ondas o véu do pudor, e para limpar as feridas da falta com o perfume do deboche."

JOUMANA HADDAD


Lilith não é, nem nunca será consensual, moderada, lógica, ordenada ou racional, e menos que tudo "cientifica"...desenganem-se as mulheres que pensam que a podem instrumentalizar no seu jogo de palavras ou mete-la entre conceitos de bem e mal, de negro e branco, de luz e trevas...
Lilith está para lá linguagem...ela é emoção pura, força vulcânica, labareda, chama e nada a detém perante a sua Justiça, pois ela é implacável e impecável - intocável na sua natureza absoluta...



En estos tiempos de sadomaso patriarcal disfrazado de liberación sexual, es bueno recordar la historia de Lilith, la mujer que prefirió exiliarse del Paraíso, si quedarse le iba a suponer someterse. Pero esta vez no vuelvo a repetir su historia (que ya escribí en otra entrada) sino que lo dejo para la poeta Joumana Haddad.

Sin embargo, que vuelva a hablar de ella es por el estreno de las famosas 50 sombras de Grey, junto con un artículo que leí de una psicoanalista lacaniana sobre cómo aman los hombres. La película y la psicoanalista me han hecho volver a  pensar el daño que la expulsión de Lilith y su conversión en un demonio ha hecho a nuestra salud psicológica.
El Psicoanálisis tradicional está fundamentado en la creencia de que sólo Adán fue hecho a imagen y semejanza de Dios, mientras que la mujer es sólo una costilla. La mujer es un no-hombre, un ser incompleto.  Axiomas como la envidia del pene de Freud, la frases-ladrillo de Lacan como que en el inconsciente sólo existe el falo, o que la mujer es para el hombre un síntoma, son hijos de Adán y Eva-La Costilla de Adán. Leer artículos de psicólogas que sostienen que todos los hombres temen a la mujer porque amar les feminiza (o sea, les da miedo que les castren porque en el inconsciente solo existe el falo y el amor es femenino) es, como poco, dañino. Las mujeres fundamentamos nuestra identidad en una falta, y los hombres en un miedo a ser castrados. Las 50 sombras de Grey solventa este problema: la mujer redime por su amor a un hombre al que le deja ser dominante.

Pero yo no creo que las mujeres seamos costillas de Adán, ni que los hombres no les fundamente la misma necesidad de amor y conexión que tenemos las mujeres. Así que me imagino el daño que puede haber hecho las interpretaciones de psicoanalistas a numerosos hombres y mujeres. A las mujeres asertivas y no sumisas, porque les habrán hecho sentir castradoras; y a los hombres sensibles y que saben cuidar, les habrán hechos sentir castrados.

Supongo que los lacanianos que no me leen me tirarían piedras. Pero yo sólo sueño con el retorno de Lilith...

Ana Cortiñas Payeras
La Isla de Penélope

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