segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

AMO-TE AÍ CONTRA O MURO DESTRUÍDO





AMO-TE AÍ
CONTRA O MURO DESTRUÍDO 


Amo-te aí contra o muro destruído 
contra a cidade e contra o sol e contra o vento 
contra o outro que eu amo e se ficou 
como um guerreiro apanhado nas recordações 

Amo-te contra os teus olhos que se apagam 
e sofrem por dentro esta superfície vã 
e suspeitam vinganças 
e mortes por desolação ou por fastio 

Amo-te para além de portas e esquinas 
de comboios que partiram sem nos levar 
de amigos que se afundaram ascendendo 
janelas periódicas e estrelas 

Amo-te contra a tua alegria e o teu regresso 
contra a dor que estilhaça os teus seres mais amados 
contra o que pode ser e o que foste 
cerimónia nocturna por lugares fantásticos 

Amo-te contra a noite e o verão
contra a luz e a tua semelhança silenciosa
contra o mar e setembro e os lábios que te exprimem 
contra o fumo invencível dos mortos 



HOMERO ARIDJIS
in, QUAL É A MINHA OU A TUA LÍNGUA? 
CEM POEMAS DE AMOR DE OUTRAS LÍNGUAS



Sem comentários:

Enviar um comentário