sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

A Base do Casamento





O casamento não permite que um escravize o outro - excepto nas áreas em que esse outro permita ser subjugado.
Tampouco dá outra liberdade além daquela que ele resolveu permitir.
Só podemos receber aquilo que damos.
Para as pessoas inteligentes, a base do casamento é uma genuína amizade, onde se luta pelos próprios sonhos, e pelos sonhos da pessoa a quem se ama. Sem estes sonhos, a relação matrimonial transforma-se numa série de almoços e jantares na cozinha da casa.
Não existem duas almas iguais.
Na amizade e no amor, os dois levantam as mãos juntos para agarrar uma coisa que não poderiam alcançar se estivessem separados.
 A velha frase da cerimónia do matrimónio:
«Recebe fulano de tal, na saúde ou na doença» etc... - é totalmente absurda.
Como pode alguém receber outro?
Um dos dois deixaria de existir - ou, melhor ainda, os dois juntos perderiam a sua identidade própria. 

O casamento é a melhor maneira de dar; e dar mais ainda.
Mesmo assim, não podemos esquecer nunca que os seres humanos estarão sempre separados.
O período antes do casamento é aquela época maravilhosa em que nos aproximamos da nossa amada; conversamos, aprendemos o que a faz feliz, e descobrimos como fazer para que essa felicidade nunca se distancie. Não podemos deixar que o contacto opressivo da manhã, meio-dia, tarde e noite acabe com este encanto.
Para que o romantismo inicial sobreviva, é necessário que cada pessoa tenha parte do seu tempo apenas para si mesma.
Nenhum de nós é suficientemente sábio para tomar uma decisão que interfira na vida do outro.
Basta observar apenas uma lei - a honestidade - e tudo será exactamente como sonhamos.



Khalil Gibran
in 'Carta a Mary Haskell, 26 de Maio de 1923'






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