segunda-feira, 25 de maio de 2015

Quo Vadis, Salazar?



"O subtítulo é uma provocação à temática do exílio que levou à errância forçada desde pretos, ciganos, judeus e toda a classe de indigentes segundo as elites inquisitoriais. Houve através dos tempos exílios religiosos, políticos e agora há os fiscais porquanto não haja igualdade de direitos na chamada Europa. Pago impostos seja onde for, de forma directa ou indirecta. Prefiro apenas escolher um país de acolhimento que use os impostos em benefícios evidentes para o cidadão e não os amealhe usurariamente para tapar buracos de fraudes e crimes também de natureza fiscal, a chamada dívida pública.
Portugal tem um dos sistemas fiscais mais punitivos e menos retributivos e justos da Europa. No meu caso pessoal, e está o tema parcialmente contado neste livro, fui tolhido numa investigação e reapuramento do chamado IRS que repudio e apelido de medíocre e abusiva, e que lamentavelmente não tendo como financiar a minha/nossa defesa a não ser que cagasse milhões, me leva a viver sem apelo nem agravo uma condenação de mais de dez anos, isto com filhos menores para criar e nenhuma riqueza acumulada.
Cada um sabe de si, e eu sei de uma coisa: nunca devi um chavo a fiscos ou a quem quer que seja. E por não ter vocação de servo nem de serviçal, pese embora o facto de estar entalado e a cumprir pena pecuniária, decidi sair deste país onde voltou a imperar a usura, a prepotência e a ignomínia. Não me salvo de arrotar com uns milhares literalmente saqueados, mas posso dizer Basta!"

Tiago Salazar


Ao ler o prefácio, deparei-me com as sábias palavras de Onésimo Teotónio de Almeida:
"A escrita sai-lhe assim provocadora e desestruturante pelos intersticios da pontuação, a indagar, a procurar explicações, a querer intervir, a esmurrar, a buscar rumos ou a pincelar sonhos feitos saudade antes ainda de terem ganhado corpo".
Palavras que eu nunca saberia dizer, mas que subscrevo sem dúvida alguma.
Excelente, Tiago, como já esperava.
E a leitura prossegue...



"Há pouco esbarrei com um comentário infeliz de um senhor que falava no meu acto de exilado fiscal como uma ligeireza, um atestado de imbecilidade aos portugueses, e punha-me ao nível das 18 empresas que fazem parte do PSI-20 exilados no paraíso fiscal holandês e a viver como um lorde ou faraó das verbas não entregues aos cofres do pobre e enganado Estado.
Há reparos imediatos a fazer em abono da verdade dos factos.
A Holanda não é um paraíso fiscal como as Seychelles ou as Caimão ou grande parte dos países árabes. Pagam-se apenas impostos mais justos e cuja devolução social à comunidade é visível em coisas do usufruto comum, como dos mais belos jardins do mundo, que além de embelezar as vistas, e atrair turistas e exilados, servem a função de oxigenar e arejar o pensamento.
Não exorto a Holanda nem as suas práticas e se me movesse pela evasão fiscal legal mudava-me com a família para uma ilha dos Mares do Sul como Somerset Maugham.
A decisão, nada ligeira, de mudar de país na casa dos 40 anos, com 2 filhos menores e totalmente esbulhado e penhorado (injustamente, como irei demonstrar custe o que custar, demore o que demorar) foi a mais dura da minha vida, onde não faltam durezas de monta.
Não sou menino de papás ricos, não tenho dote, não me dediquei a nenhum trabalho com o fito do enriquecimento fiduciário e não vivi nunca acima das minhas possibilidades como é fácil de ver pelo meu historial bancário, cujo sigilo legal levantei em defesa da acusação e que foi ignorado como termo da sentença baseada em correcções de IRS por estimativa, uma semântica pusilânime, prepotente e essa sim de absurda ligeireza e desconsideração pelo indivíduo.
Ou seja, pague-se e depois logo se vê se temos (ou tem) razão.
Talvez de forma ingénua escolhi casar e ter filhos, sonhei ter uma casa de cultura feita com o lucro do meu trabalho e devolver aos meus leitores aquilo que tanto me têm dado - um espaço para estarem e partilharmos paixões literárias, musicais e da geografia.
Estava nessa etapa quando fui atropelado pelo porta-aviões da Administração Tributária, apostado em reparar à força os buracos criados por um consórcio mafioso de corruptos que se têm dedicado a estropiar quem achou poder ser proprietário de alguma coisa ganha às suas custas.
Posso falar de peito cheio (de dor também) que nesta situação sou apenas um dos vencidos-lixados pelas prepotências dos sistemas que nada fazem pelo benefício dos cidadãos, que os usam apenas de forma panfletária e friamente se estão nas tintas para a sorte e o protesto dos seus generosos contribuintes.
Neste momento, ocupo-me de uma forma algo obsessiva com a questão particular de salvar uma família com dois inocentes, tudo fazendo por cumprir com pagamentos desmedidos e no limite da bondade da comarca, e talvez de forma ingénua e romântica acredite que a minha luta por reparar as injustiças faça eco e leve à rebelião de quem passa por estas passas.
Por isso, caro senhor, vá usar a palavra ligeireza para o raio que o parta e respeite o sofrimento alheio!"

 Tiago Salazar

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