Não esgotei na altura própria
a criança que temos de ser e de gastar.
Deve ser por isso
que eu não distingo as realidades,
que eu não vejo onde começa o impossível
Deve ser por isso
que eu não escolho um destino para me assentar depois
e ando a tropeçar à espera, à espera,
sem mesmo disso ter perfeita consciência…
deve ser por isso
que eu estendo a mão para um objecto
e ele está mais longe que o comprimento do meu braço.
Deve ser por isso
o meu anseio de conjunto universal,
a minha curiosidade do que se disse e se escreveu,
a desordem, gritante dentro e lenta fora, que em mim ondeia e me transporta
e eu não sei expulsar nem quero.
Deve ser por isso
que jamais lembrei o desmedido infinitamente frágil de minha alma
e que, agora, lembrado e conhecido de mim mesmo,
não hei-de ainda ter emenda…
(…)
deve ser por isso
que não consigo ser “pessoa grande”
Jorge de Sena
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